Opinião

Boas notícias

Manuel Rui

Escritor

Quem é que não gosta de boas notícias? Mais de dez milhões de alunos matriculados na primária e secundária. É uma vitória cultural e social. Significa que os pais se empenharam em matricular os filhos e estes vivem a felicidade de aprender.

05/09/2024  Última atualização 06H54
Antigamente, os miúdos levavam a lata que tivera leite em pó, para se sentarem na escola. Devíamos fazer um museu com essas latas e fotografias dos que chegaram a doutores tendo começado por usar as latas. São cento e vinte mil novas salas de aula.

Agora sim. Tiraram muxoxo aos que vão a Portugal dizer nas televisões que em Angola não se faz nada e se anda para trás ou àquele que recebe telefonemas de maledicência e acaba "africanamente.”

Fizeram-se escolas novas, formaram-se novos professores. E merendas! Que bom e bonito. De responsabilidade das autoridades administrativas, bem como a segurança dos estabelecimentos escolares. Há novidades curriculares como o ensino das línguas regionais (que existem muito antes da nação).

Outra. Mais de 500.000 peregrinos no primeiro dia da celebração do Santuário da Muxima. Eu que não sou religioso, já lá fui e emocionei-me com o sentido colectivo da vida onde se troca comida, todos são irmãos e não há conflitos.

Tardava mas chegou. Pessoas com doenças crónicas vão passar a ter apoio do Estado. Isto é muito importante pois, essas pessoas, normalmente são idosas e de baixa renda e os medicamentos são raros e caros, por exemplo, para a diabetes.

Voltámos a explorar cobre e a exportar. Aí, bom seria que se incentivasse a sua transformação para mudarmos o ciclo terceiro-mundista: vendemos a dez e depois importamos torneiras a vinte.

Também, as exportações de Angola para os vizinhos Congos chegam a mais de 300 milhões de dólares. Isto é deveras importante para além do estritamente económico, evita pilhagens, diminui contrabandos e as parcerias reforçam sempre a fraternidade e amizade entre os povos.

Falamos em muita coisa, sabendo que na agricultura há grandes progressos e tudo contribui para a diminuição das importações.

Afinal falámos de sucessos na educação, saúde e economia e já agora, balança de pagamentos. Esquecemos os dois pilares um que brilha e outro que acende. Diamantes e petróleo. Não falámos na riqueza dos nossos rios.  Dos transportes ferroviários e rodoviários com o senão das estradas. Estou-me a rir, porque os meus parentes que viajam do Huambo ou Benguela para aqui nunca dizem que a estrada está má… anda-se bem com alguns buracos….Do nosso mar. Das nossas árvores.

Estamos a caminho do essencial que será o desenvolvimento harmonioso de todos os sectores da vida nacional. Aqui temos que dizer saúde, educação e economia contribuem para combater o desemprego também fruto da movimentação populacional desordenada em razão das guerras fratricidas que a guerra fria nos ofereceu.

Voltando ao princípio, é preciso cuidar da nossa escola, do nosso hospital, do nosso campo de futebol ou pavilhão desportivo. Dos nossos aeroportos.

E para isto tudo falta fazer e não só falar em democracia. A Assembleia tem que fazer leis. O Executivo é para governar. A Justiça tem de ser cada vez mais independente, nas carreiras e no exercício. As Universidades devem funcionar democraticamente com reitores eleitos.

Recordo, com a devida distância, as palavras do filósofo queniano Henry Oruka Odera sobre "Africanismo.”

"Apresenta-se como religião africana” o que talvez não seja mais do que superstição e esperando-se do mundo branco que admita tratar-se com efeito de uma religião, mas uma religião africana. Apresenta-se como "filosofia africana” o que, em todos os casos, é uma mitologia, e uma vez mais a cultura branca é convidada a admitir tratar-se com efeito de uma filosofia, mas uma filosofia africana. Apresenta-se como "democracia africana” o que, em todos os casos, é uma ditadura, e espera-se da cultura branca que ela admita que é assim. E o que é de toda a evidência um processo activo de subdesenvolvimento, e, de novo, o mundo branco é convidado a admitir que é desenvolvimento, mas, naturalmente, um desenvolvimento africano.

Mas não é que me esquecia do Kwanza? Devia ser colocado na agricultura. A gente semeava, ele crescia e quando nos perguntassem quando é que nasceu? Colocava-se a mão direita na vertical e dizia-se: quando o Kwanza estava assim…

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