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Boaventura Cardoso, renomado homem de letras, aconselhou, ontem, os candidatos a escritores na província do Bengo, a dominarem a língua portuguesa, por ser fundamental e que a pressa em publicar é o grande inimigo, numa alusão a muitos principiantes, pouco dedicados que escrevem mal e consideram-se grandes.
Na troca de impressões entre o também membro da União dos Escritores Angolanos, convidado para o ciclo mensal de encontro cultural com estudantes da Escola Superior Pedagógica, numa organização do núcleo local da Lev’arte do Bengo, o escritor realçou a importância do domínio da língua portuguesa para uma literatura mais conseguida, com valores estéticos e críticos.
"Não acreditem e nem acompanhem aqueles que estão apressados em publicar. Há novos escritores que não dominam a língua portuguesa, escrevem mal e pensam que são grandes”, alertou o antigo presidente da Academia de Letras de Angola, um escritor com obras que retratam o nacionalismo, o pendor cultural, desde os anos 1960 do século passado.
O escritor, que nasceu em Luanda, mas cresceu em Malanje, considerou-se observador atento da forma como falámos o português, porque esta língua em Angola coexiste com as variantes nacionais, o que provoca influências recíprocas, "daí a nossa forma de falar, que ainda não é o português angolano, como muitas vezes oiço dizer, um caso de estudo para os linguístas.”
Na mesma linha, Boaventura Cardoso pontualizou que "a aposta na recriação linguística, como o faz Luandino Vieira, como eu faço, obedece, obrigatoriamente, ao conhecimento tácito da língua portuguesa. Eu revejo com frequência a gramática. Para além disso, leio os clássicos da literatura nacional e internacional”, reconheceu, adiantando que o escritor tem que ler muito para conhecer outras experiências e depois adoptar o seu próprio estilo.
Ao debruçar-se sobre a relação entre literatura e história, o escritor adiantou que não escreve romances históricos. " Eu inspiro-me na história para escrever o romance. No meu caso concreto, parto da história para muitas vezes questionar à própria história. Respeito os que escrevem romance histórico tendo em atenção o modelo clássico, com o respeito absoluto aos factos históricos”, disse, sublinhando que é importante falar da realidade em termos literários.
"Nós devemos partir da nossa experiência física, moral, sentimental, é uma realidade, mas não é o ponto de chegada”, admitiu, adiantando que até chegar ao ponto final o escritor transfigura os códigos.”
Boaventura Cardoso, que autografou exemplares dos livros "Diários de vigília” e "Margens e travessias”, elucidou ainda que há diferentes tipos de escritores, "os considerados clássicos e outros que não são. Há os de moda, que passam com o tempo. São escritores hoje, mas daqui há alguns anos ninguém se vai recordar deles”, deu a conhecer, insistindo que os clássicos persistem com o tempo, porque trabalharam muito.
A actividade cultural bastante concorrida foi o palco para o escritor e estudantes reflectirem sobre aspectos atinentes ao percurso da literatura angolana e debruçar ao contributo de Boaventura Cardoso nesta arte, que desperta interesse da sociedade e sobretudo do grosso de estudantes do ensino superior.
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