Cultura

Bengo: Conferência aborda resistência dos povos da Região dos Dembos

Edvaldo Lemos |

A bravura e resistência dos povos da região dos Dembos durante a luta contra a ocupação colonial dominou, sexta-feira, os debates da conferência municipal, que serviu para celebrar os 103 anos de existência daquele espaço histórico da província do Bengo.

28/07/2024  Última atualização 08H20
Sala do Cine Quibaxi esteve preenchida durante os debates © Fotografia por: Edições Novembro

Sob o lema: "Reencontrar a história para melhor nos conhecermos”, o Cine Quibaxe foi o local escolhido para albergar a actividade. A iniciativa da organização foi partilhar experiências sobre o processo histórico daquela região, que tinha 80 por cento da actual província do Bengo, com excepção do município do Ambriz.

A região dos Dembos, de acordo com os dados históricos apresentados durante a conferência, incluía as localidades de Bula Atumba, Dande, Nambuangongo e Pango-Aluquém, numa altura em que esteve independente do jugo colonial durante 47 anos.

O anfitrião, o príncipe dos Dembos, Dom Félix João Fula, dissertou o tema: "Origem dos Dembos e o mito de Kibaxe kia Mbemba”, em que abordou a origem da região dos Dembos. Com alguma profundidade, falou sobre a história de Quibaxe, sobretudo, da Baixa Vemba e aprofundou sobre o surgimento da denominação Dembos.

Dom Félix João contou que "existia um rei feiticeiro que matava a própria população, até ao surgimento da localidade do Dembo Quibaxe, fruto de uma relação com o Reino do Congo”.

Na linha de transmissão de conhecimentos, sua alteza mostrou aos presentes as razões pelas quais foi denominado Dembo, as causas e origens da denominação do território que comemora os 103 anos.

A deputada Ginga Afonso teve a responsabilidade de apresentar o painel sobre: "A participação dos filhos dos Dembos na luta pela independência nacional”, em que abordou o processo de colonização e a conquista da Independência Nacional. Neste particular, Ginga Afonso vestiu uma indumentária exemplar das mulheres guerrilheiras na época, em que utilizavam durante o combate à opressão colonial.

Já o historiador e professor Fernando Bambi, dissertou o tema: "As cartas de Caculo Cahenda e a Resistência de Cazuangongo Gombe a Mikiama”. Durante o debate, frisou que Caculo Cahenda era um dos mais destemidos de entre os guerrilheiros dos Dembos. "A resistência deu-se, igualmente, por meio da diplomacia e com tácticas de reconhecimento militar”, disse, reconhecendo que, " a resistência teve êxitos devido ao envolvimento das mulheres e a recusa da fala em língua portuguesa.”

Quando os portugueses interrogavam os nativos, referiu o historiador, eles não obedeciam, porque não falavam, nem entendiam o português, o que gerava muita resistência em aceitar as ordens dos colonizadores. Fernando Bambi elucidou, igualmente, que Cazuangongo Gombe foi um estratega militar que liderou várias frentes de combate. " A resistência dos povos dos Dembos faz parte da cultura da região. É um povo que não aceita ser submisso a nenhum outro povo e nem aceita humilhações”.

Na ocasião, o escritor John Bella, homem de cultura presente no evento, abordou o tema sobre: " A interacção dos Reinos do Ndongo e da Matamba”, no qual apontou o Kilombo dos Dembos, como o lugar de concentração da resistência, local onde a rainha Njinga Mbandi travou a batalha final.

"Luanda acordou satisfeita com a chegada da Rainha Njinga, cujo reinado chegava, igualmente, até aos Dembos.” Durante a conferência, Fernando Bambi explicou que a Soberana negou sempre pagar impostos aos portugueses, porque entendia que os portugueses ainda não tinham conquistado o seu território.

Deu a conhecer que a estratégia da filha de Ngola Kiluange era marcar sempre presença nas frentes de combate.

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