Sociedade

Beatriz Frank: “A mulher pode tudo o que quiser”

Kátia Ramos

Jornalista

Beatriz Frank é dona de uma linha de confecção de alta costura com desenhos inspirados na realeza. A visionária empresária, que apresenta nas suas peças o que tem de mais belo na cidade capital do país, disse ao Jornal de Angola que o seu sonho de vestir bem as mulheres deve-se ao facto de que sempre soube apresentar-se bem vestida e aos elogios que recebia de outras mulheres.

19/03/2023  Última atualização 06H59
© Fotografia por: Maria Augusta | Edições Novembro

Disse que tem como fonte de inspiração a mulher forte que lhe deu a luz.  "Aos meus 10 anos de idade ouvi minha mãe dizer ‘filha, eu não estudei e não quero o mesmo para ti, por isso tens de estudar muito para não ser dependente dos outros’”.

Foi assim que aos 14 anos de idade, de forma a ajudar a mãe que vendia micate no mercado de Cabinda, pôs uma bancada à porta de casa com a finalidade de vender parte dos micates.  Depois surgiu a época, lembrou, em que a mãe estava quase sempre doente e não conseguia mais vender. "Sempre foi a minha mãe que puxava pelo meu pai, que era um homem muito relaxado e não demonstrava ter ambição. Para termos uma casa em Cabinda foi graças à força de vontade e persistência da minha mãe, que sempre estave à frente de tudo”.

Beatriz Frank confessou que ficava sempre impressionada com a força de vontade da mãe, que, "mesmo sendo uma mulher iletrada, sabia fazer contas como ninguém, e conhecia a importância de cada valor que conseguíamos”. Foi por esta razão, salientou a modista, que o negócio dos micates à porta e na bancada da pracinha em Cabinda cresceu ao ponto de quatro anos depois "juntarmos algum dinheiro e quando completei 18 anos fui pela primeira vez ao Brasil comprar roupas para vender na minha província e nunca mais parei”

Foi assim que a futura empresária descobriu que a venda de roupas era exactamente o que gostava de fazer. Dada a sua estrutura física, em 2003 foi convidada a participar no concurso Miss Cabinda, onde ganhou um prémio de oito mil dólares. Com este dinheiro viajou novamente ao Brasil e desta vez trouxe duas malas de roupas que rapidamente foram despachadas no seio do seu público alvo, que eram as colegas, amigas e vizinhas.

O negócio era tão rendável que a jovem empresária viu-se na necessidade de abrir a sua primeira loja e logo expandiu o negócio para outros pontos da província de Cabinda. Ela acredita que a sua força de vencer diariamente os obstáculos vem das palavras motivadoras de sua mãe, que sempre a incentivou a não depender de um homem para se sustentar.

Beatriz Frank disse que levou ao pé da letra as palavras incentivadoras da sua progenitora e que hoje sente-se uma mulher realizada por concretizar o sonho de ter uma linha de roupa de alta-costura idealizada  por si. Hoje ela também aposta em acessórios com estilo e requinte.

A empresária reconhece a sua responsabilidade na inspiração, indumentária e apresentação de muitas mulheres.  "Sempre tive bom gosto na moda e as pessoas já demostravam interesse pelas peças que eu usava. E quando comecei a vender roupas a responsabilidade redobrou, já que muitas clientes encomendavam roupas segundo os meus gostos, pois elas já acreditavam no gosto apurado que eu tinha”.

Hoje o maior interesse de Beatriz Frank é olhar para o empoderamento feminino. E justifica  essa postura da seguinte forma: "gosto de ver mulheres bonitas, vestidas de forma elegante. Uma mulher bem preparada e vaidosa ilumina qualquer ambiente. O meu grande objectivo é ver as mulheres angolanas bem apresentadas a um preço baixo, que alcance até os mais necessitados”.

A estilista faz questão de dizer que é o tipo de mulher que olha para uma mulher bem vestida e elogia os seus gostos, mas não faz o mesmo com homens. "Estou sempre a elogiar mulheres, a puxar por elas e a dar asas à sua auto-estima, não importa se é bonita, linda, fofinha, feia, gorda ou magra. Estou sempre disposta a puxar pelas mulheres, sem me importar com o seu sentido estético, sempre a transmitir o bom gosto pela escolha da roupa perfeita e que faz qualquer mulher sempre bonita e elegante”.

Beatriz Frank revela que o seu desejo de criar roupas que levantam a auto-estima das mulheres foi concretizado. "Hoje vejo mulheres elegantes com a estampa e as iniciais do meu nome nas suas peças, o que nos torna empoderadas. A minha linha de roupa tem o dever de devolver a confiança ao género feminino e, graças a Deus, acho que tenho conseguido, dadas as imensas mensagens positivas que recebo dos clientes. Já recebi mensagens a dizer, ‘quando visto BF, sinto-me tão poderosa... enfim, a elegância me alcançou’; ‘Obrigada, BF, hoje vesti sua linha e recebi vários elogios’. E é assim que vou ganhando cada vez mais clientes em todos os pontos do país”.

Acrescentou que o bichinho da moda começou nela desde criança, mas foi em 2012, quando se mudou para Luanda, que entendeu que devia mudar o foco e aceitou o desafio de lançar uma revista de moda, "Super Fashion”. Naquele mesmo ano abriu as lojas Bibi nas províncias de Luanda, Huambo e Cabinda.


Credibilizar a marca

Reconheceu ser uma pessoa muito ambiciosa. É sua meta credibilizar a marca Beatriz Frank na África toda. E já está a tratar da patente BF nos Estados Unidos da América. 

A estilista reconhece a abrangência da sua responsabilidade na moda, mas a sua intenção é desanuviar o stress diário que as mulheres enfrentam ao lidar com o trabalho, marido, filhos, trânsito e problemas pessoais. Beatriz Frank acredita que uma roupa bonita e elegante, às vezes, traz a alegria que o universo feminino necessita.

É sua intenção "preencher as lacunas existentes no mundo das mulheres com roupas alegres, pautando por cores iluminadas”.

"Sou mulher e quando acordo triste e chateada vou ao espelho e olho para mim, visto-me de forma elegante e o meu dia melhora gradualmente. Esta inspiração e energia positiva trago às minhas peças, pois é desta forma que pretendo ajudar as outras mulheres”.

Enquanto não se concretiza o plano de expansão das suas lojas a nível de todas as províncias do país,  as vendas são feitas de forma online, contando com a DHL e a Macon para levar a todos os pontos do país. Beatriz Frank já comercializa os seus produtos pelo mundo de forma online. Ela assegura que já vendeu para clientes nos Estados Unidos, Portugal, Canadá e Austrália. Em Luanda, conta com quatro lojas e mais de 40 funcionários. Nos próximos anos a empresária pretende começar uma linha de produção com material local, tendo para tal feito uma parceria com a Textang. Em Dezembro último colocaram no mercado angolano toalhas de mesa 100 por cento Made in Angola.

Para Beatriz Frank, ser mulher é a maior dádiva que Deus lhe concedeu e gostava de voltar a ser do género feminino se houvesse uma segunda oportunidade de vida. Porquê? "Por termos uma infinidade de recursos, força, energia, intuição. A mulher pode tudo, consegue o que quiser  e é multifacética. A mulher dá amor, enquanto amamenta faz várias coisas, ao mesmo tempo que está a cozinhar e mesmo a passar mal com febre, lava e passa a ferro a roupa do marido e dos filhos”. A empresária vai mais longe no elogio às mulheres: "Deus escolheu a mulher para conceber o seu filho, somos a luz que este mundo precisa, nós é que encaminhamos a base da família, criamos e orientamos os filhos, somos o pilar da sociedade e do mundo”.


"Quero muito ficar grávida”

Quanto à vida pessoal, Beatriz Frank pretende constituir a sua família, visto que o bichinho da maternidade já lhe fala mais alto. "Está na hora de começar a pensar em ter um filho, não sei se me casarei novamente, mas quero muito ficar grávida em breve”.

Beatriz da Conceição Pemba António Frank, nasceu em Cabinda, no bairro A Resistência, aos 9 de Março de 1982. Filha de Paulo António e de Maria Rosa Pemba, é a última filha de nove irmãos. Divorciada, tem duas licenciaturas: em de Gestão de Empresas e em Contabilidade.

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