Política

Baptista Borges defende investimentos superiores ao crescimento da população

Paulo Caculo

Jornalista

O ministro da Energia e Águas, João Baptista Borges, justificou o actual défice na distribuição de água às populações com o facto de os investimentos serem desproporcionais à alta taxa de crescimento demográfico registada no país.

17/09/2023  Última atualização 08H50
Ministro reiterou a necessidade de o Estado fazer um grande esforço de investimento para superar o défice existente © Fotografia por: Dombéle Bernardo | Edições Novembro

Em declarações prestadas à imprensa, quinta-feira, no final da 8ª Sessão Ordinária do Conselho Nacional das Águas, orientada pela Vice-Presidente da República, Esperança da Costa, o ministro afirmou que uma das soluções para o país vencer o défice no consumo de água é ter uma taxa de crescimento da capacidade de distribuição superior ao crescimento da população.

"Se estamos a pressupor que a população esteja a crescer, como dizem os dados do Instituto Nacional de Estatística (INE), numa taxa de 3,3 ou 3,4 por cento ao ano, estamos a imaginar que, se somos 33 milhões, quer dizer que somos mais um milhão de habitantes todos os anos”, disse João Baptista Borges, questionando-se em seguida que, se as metas estabelecidas pelas Nações Unidas para o consumo de água ‘per capita’ por habitantes/dia são de 100 litros, multiplicando por um milhão, onde é que se cria esta capacidade?

 "É por via do investimento. Se não realizarmos este investimento a tempo, vamos gerar défice. E o défice vai levar a que, de facto, as pessoas tenham cada vez mais dificuldades de abastecimento de água”, acrescentou.

Tal cenário, continuou o ministro, assistiu-se um pouco em Luanda, onde a população chegou aos dez milhões e "não houve investimento de grande vulto em termos de abastecimento de água”, razão pela qual, ressaltou, o Ministério da Energia e Águas lançou os projectos Bita e Quilonga, "para duplicar a capacidade actual”, realidade que diz ter sido verificada, praticamente, em todas as cidades capitais e sedes municipais.

"A população está a crescer de uma forma quase explosiva. Estamos a assistir a uma explosão demográfica no nosso país. Registámos as taxas demográficas mais altas do mundo e isso requer mais água, mais energia, mais investimentos na saúde e em escolas”, justificou.

O ministro reiterou a necessidade imperiosa de o Estado fazer um "grande esforço de investimento”, para superar o "défice existente”, sobretudo em Luanda, onde considera enorme a densidade populacional.

"São 50 por cento em Luanda e, nas outras províncias, estamos a falar também de défice considerável. Temos de vencer este défice e, se possível, com um salto só, que é realizar investimentos elevados em infra-estruturas”, referiu.

João Baptista Borges esclareceu, ainda, que, só de investimento em Luanda, os dois sistemas de água vão representar "mais de dois mil milhões de dólares”, alertando, no entanto, que, pese embora os elevados gastos, será "preciso não parar de investir”.

Enquanto a população cresce, disse, o investimento tem de ser contínuo, argumentando, por isso, dizer-se, muitas vezes, que "o investimento em infra-estruturas é de capital intensivo”, porque "cada alma que nasce é mais uma necessidade de consumo que se gera”.

"Temos de fazer crescer a infra-estrutura, enquanto a população cresce. É evidente que não é só um esforço direccionado para novas instalações. É preciso também manter aquilo que existia e optimizar o seu funcionamento”, enfatizou.

Energia tem avanços

No que aos investimentos do sector energético dizem respeito, João Baptista Borges admitiu haver "grande diferença em relação ao passado”, tendo assegurado que "hoje o défice reduziu”, cenário que permite ao Estado concentrar as atenções em projectos que visam "expandir os sistemas” para os lugares onde não há ainda interligação, construir linhas e fazer a distribuição.

"O grande investimento em produção foi feito e notam-se, hoje, os resultados. Também foi feito um investimento significativo em transportes, portanto, interligámos com a parte Centro do país”, congratulou-se, reiterando o objectivo de fazer "exactamente a mesma coisa” com os projectos do sector das águas.

"Temos de dar um salto grande para vencer este défice que existe e, depois, tem de haver um planeamento rigoroso a ser seguido, para que os investimentos sejam feitos de forma contínua”, destacou, confessando estar "convencido” de que, no fim do quinquénio 2023/2027, melhorias significativas serão sentidas por todos os angolanos, "se conseguirmos, de facto, realizar estas obras”.

"Actividade mineira está a causar problemas à qualidade da água”

João Baptista Borges afirmou que a actividade mineira tem estado, também, a criar problemas com a qualidade da água que entra para a Barragem do Luachimo e nas captações do rio Chicapa, consubstanciada pela absorção de muita matéria inorgânica.

O ministro garantiu ser uma situação que tem que ser vista, no âmbito das medidas de ordenamento do território, em virtude de não ser uma competência do Ministério da Energia e Águas, adiantando ser uma questão preocupante, que deve ser tratada de forma "interministerial”.

"No Luachimo registámos uma situação que tem a ver com a qualidade da água e quantidade de detritos inorgânicos que a água transporta, que é muito provavelmente devido a explorações mineiras que estão próximas”, esclareceu, referindo-se à areia, rochas e pedras.

"Encheu, praticamente, o canal de matéria inorgânica, tendo também provocado alguns problemas às máquinas que já estavam a funcionar. Estamos preocupados com isso e temos de resolver os problemas do Luachimo”, acrescentou.

Neste momento, disse o ministro, trabalhos de desassoreamento de todo o canal estão em curso, prevendo-se que, nos próximos dias, possa ficar completamente desimpedido.

"Estamos também a substituir componentes que se danificaram nas máquinas, por entrada desta matéria inorgânica no circuito hidráulico dos geradores. Vamos, também, de seguida, desassorear toda a bacia na tomada da água, na albufeira, para evitar que a  água que entra para o circuito hidráulico entre com muita terra”, revelou.

Baptista Borges sublinhou, a finalizar, que o Canal do Cafu, projecto enquadrado no combate à seca no Sul do país, cumpre a sua função normal, que é dar água a quem esteja nas margens, destacando os progressos no domínio da "agricultura, abeberamento do gado e dos pastores que vivem na região”.

"São cerca de 165 quilómetros de canal, uma grande extensão e que cobre uma zona onde não havia água”, disse.

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