Cultura

Baló Januário é fiel na promoção e defesa dos estilos cabecinha, catutula e sambalaji

Katiana Silva e Maria Hengo

Jornalistas

O músico Baló Januário realizou, domingo e sábado, em Luanda, a venda e sessão de autógrafos do seu novo disco, intitulado “Coração não Aguenta”, trabalhado nos estilos cabecinha, catutula e sambalaji. Segundo Baló Januário, em declarações ao Jornal de Angola, à margem do lançamento do quarto álbum de originais de uma carreira de mais de duas décadas dedicadas à música tradicional, o disco rende homenagem ao filho, Joelson Aníbal Januário, que morreu no dia 13 de Outubro de 2023, aos 29 anos, vítima de acidente de viação.

29/07/2024  Última atualização 07H53
O artista ao lado de Titi Neusa, que tem o tema “Fofoca”, e é a principal corista nos espectáculos © Fotografia por: Vigas da Purificação | Edições Novembro

 "Isso acabou com a minha felicidade e alegria. Foi muita dor, ver alguém formado, que resolvia muitas das minhas questões, partir assim prematuramente. Foi muito duro. O coração não aguenta”, revelou o artista. 

Quanto aos estilos, Baló Januário referiu que se mantém fiel aos ritmos da sua zona de origem, promovendo, através da música, a cultura e a língua da Quiçama, localidade da província de Luanda.

Conhecido pelos sucessos que narram, em português e línguas nacionais, as vivências da sociedade angolana, o novo disco de Baló Januário comporta 12 faixas musicais e conta com a participação dos músicos Socorro, Patrícia Faria, Titica e Titi Neusa. 

"No princípio, a minha música era considerada ‘a música dos óbitos’. Felizmente, essa percepção passou e hoje toca em qualquer convívio, desde casamentos a festivais.

Já tentei fazer outros estilos, como o semba, mas não deu certo. Felizmente, hoje sou artista de sucesso e estou muito feliz no meu estilo”, partilhou.

Artista de grande versatilidade, Baló Januário disse que vive uma fase tranquila da sua carreira e promete trabalhar arduamente para todos os anos fazer os sucessos que o consagraram como um dos artistas mais ouvidos da actualidade, com temas como "Papa Fugiu”  "Boca na Botija”, "Azar da Belita”, "Estraga Lar”, "Na Casa da Mana” e outros.

Sobre a valorização da música tradicional, o artista referiu que ainda não é a expectável, sublinhando que ainda não se nota um verdadeiro sentido de pertença.

"O público dá esse valor, e as enchentes nas sessões de venda e as partilhas dos nossos vídeos é sinal de que da parte de quem nos ouve há muito carinho e consideração. Há pessoas que se revêem verdadeiramente na nossa música. Porém, do ponto de vista cultural e de sentido de pertença e a forma como a música deveria ser estruturada ainda estamos muito aquém”, observou.

Baló Januário apontou que um dos grandes entraves da valorização da música tradicional é a fraco interesse na aprendizagem das línguas nacionais por parte dos jovens e crianças das zonas urbanas. Na sua opinião, é preciso que seja feito um grande trabalho, não apenas na música mas no próprio sistema de educação, que deveria priorizar também o ensino das línguas locais.

"Temos consequências, tanto que já nos começamos a perder. Vejamos que há crianças que não percebem o que o avô está a dizer, mas vivem na mesma casa e partilham os mesmos ancestrais. Para mim, isso é extremamente grave. Temos essa obrigação de passar o testemunho. Nesse aspecto, não estamos no bom caminho, quando pessoas de diferentes gerações vivem na mesma casa, mas não se entendem na língua de origem”, lamentou o artista Baló Januário.

Fãs e amigos testemunham o acto

O jurista e advogado Carlos Cavuquila, juiz conselheiro do Tribunal Supremo, foi uma das figuras que prestigiou o primeiro dia do lançamento do disco de Baló Januário, acolhido no Largo da CIMEX, no Distrito Urbano do Neves Bendinha, e manifestou o grande apreço que tem pelo músico.

"Estou com o Baló Januário há muito tempo, quando muitos não apoiavam a música tradicional. Temos uma relação de parentesco e por isso não podia ficar de fora”, revelou. Carlos Cavuquila disse que cresceu a ouvir e a dançar o sambalaji, a cabecinha e a catutula.

A responsável do distrito, Luísa King, manifestou alegria pelo facto de o artista ter escolhido o local para o lançamento do seu quarto álbum, tendo, igualmente, referido que aprecia as suas músicas, em particular a canção "Na Casa da Mana”. 

"Baló Januário é um cantor simples, de trato fácil e bastante espontâneo. É um cantor que traz mensagens que retratam problemas  de todas as classes sociais”,descreveu.

Lucrécia Bernardo Sebastião, irmã do artista, descreveu o músico como alguém muito carinhoso, atencioso, simples e simpático.

"Espero bastante deste álbum, pois o Baló sempre foi alguém muito esforçado e um excelente profissional”, manifestou.

Conterrâneo do cantor, Miguel Manuel disse que adquiriu duas t-shirts, duas pendrives e dois CD, a fim de criar um acervo bibliográfico com os discos do cantor, para poder desfrutar melhor das suas músicas. Por sua vez, Esteves Manuel Domingos, estudante de Medicina, comprou o CD por orientação da mãe, tendo explicado que está curioso para ouvir o novo produto do cantor.

"Baló Januário é um cantor extraordinário que conseguiu chamar a atenção da sociedade com as suas letras, contribuindo  de forma positiva para a elevação da cultura nacional”, elogiou o futuro médico.

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