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As acusações sem nome de Meghan e Harry

Após quase um ano afastados da família real, os duques de Sussex quebraram o silêncio numa longa entrevista a Oprah. Mas as suas respostas suscitam ainda mais perguntas. O artigo é do Diário de Notícias

13/03/2021  Última atualização 20H47
© Fotografia por: DR
Quem foi o membro da família real britânica que questionou o príncipe Harry sobre a possível cor de pele do seu filho? A quem é que Meghan Markle pediu ajuda dentro da Firma (como é conhecida a instituição), depois de admitir ter tido pensamentos suicidas, sem que essa ajuda lhe tivesse sido prestada? Estas são apenas duas das perguntas que ficam da entrevista dos duques de Sussex à norte-americana Oprah Winfrey, quase um ano depois de terem optado por se desvincular da família real e viver nos EUA. A atenção está agora virada para o Palácio de Buckingham, à espera de eventuais respostas e de perceber o impacto de mais este capítulo da novela real.

As acusações sem nome não comprometem Harry e Meghan, mas levantam as dúvidas sobre todos os membros da família real. A entrevista foi transmitida no domingo à noite nos EUA (madrugada de segunda-feira em Angola) e, logo na manhã de segunda-feira, Oprah foi ao programa This Morning da CBS clarificar que nem a rainha Isabel II nem o seu marido, o duque de Edimburgo, actualmente hospitalizado, após uma intervenção ao coração, foram os autores dos comentários racistas denunciados pelos duques de Sussex.

Em causa, o facto de alguém da família real ter questionado qual poderia ser a cor da pele do filho do casal, já que Meghan é birracial.
"Essa conversa nunca vou partilhar. Mas na altura foi estranho, fiquei um pouco chocado", disse Harry, na entrevista. Oprah revelou já de manhã que ele "queria ter a certeza" de que ela sabia e que se tivesse a oportunidade de o partilhar o fizesse, "que nem a avó nem o avô fizeram parte dessas conversas".

Pensamentos suicidas
Outra acusação que ficou sem nome prende-se com uma das revelações de Meghan: que tinha tido pensamentos suicidas e que, ao tentar procurar ajuda, esta lhe foi negada por um membro sénior da instituição.
"Lembro-me desta conversa como se tivesse sido ontem, porque eles disseram: ‘Tenho muita pena, porque consigo ver quão mau é, mas não posso fazer nada para te proteger, porque não és uma funcionária paga da instituição", contou a duquesa.

Já Harry admitiu que a relação com o pai se tinha deteriorado depois de começarem as conversas sobre a sua vontade de deixar a família real, chegando ao ponto de o príncipe Carlos deixar de atender os seus telefonemas.
"Nessa altura, resolvi o problema por conta própria. Eu precisava de fazer isto pela minha família. Não era uma surpresa para ninguém. Era triste que tivesse chegado àquele ponto, mas tinha de fazer algo pela minha própria saúde mental, a da minha mulher e pelo Archie", disse.


Reacções
A entrevista só passou na segunda-feira à noite no Reino Unido, mas o tema dominou todo o dia a actualidade. "O que quer que a família real esperasse da entrevista, foi pior", escreveu o The Times. Para o Daily Telegraph, a família real precisava de um "colete à prova de balas". Os tabloides, acusados por Harry de racismo e de contribuírem para levar o casal a deixar o país, não pouparam os ataques a Meghan - e à própria Oprah, por não ter questionado sobre a relação da duquesa com o pai.

Mas já durante o dia, novos excertos da entrevista revelam essa parte da conversa, com Meghan a dizer que, como mãe, não consegue imaginar magoar o filho da forma como o pai a "atraiçoou" antes do casamento. Thomas Markle não esteve na cerimónia, por questões de saúde, depois de se descobrir que tinha andado a falar com a media à revelia da filha, enquanto insistia que não o tinha feito.

O Primeiro-Ministro britânico, Boris Johnson, questionado sobre a entrevista, limitou-se a dizer: "Sempre tive a maior admiração pela rainha e pelo papel unificador que desempenha no nosso país e em toda a Commonwealth."
O antigo embaixador português José de Bouza Serrano, que, além de ter feito toda a carreira externa em países com monarquias (da Espanha aos Países Baixos) é o autor do livro As Famílias Reais dos Nossos Dias (Esfera dos Livros), acredita que, diante destas acusações, o Palácio de Buckingham terá de responder.

"Não será de imediato, mas estou convencido de que vão responder", disse ao Diário de Notícias, lembrando também que a família real já sobreviveu a muitos escândalos. Mas questiona o momento desta entrevista: "É muito inoportuno, com o príncipe Filipe no hospital e tudo. Não era o momento para ter este género de preocupações", referiu.

Questionado sobre a entrevista, admite que o casal não estivesse preparado para os desafios. "Ele não se apercebeu de que estava tão metido na engrenagem. Mas quem tem os privilégios tem de ter as maçadas", referiu.
"Já ela deve ter pensado que aguentava. ‘Sou uma actriz e consigo fazer o meu papel.’ Mas também aguentou muito pouco. Ela vinha de uma vida livre, independente, autónoma e aquilo é um espartilho enorme."
DIZ TER ADMIRAÇÃO PELA RAINHA
PM britânico sem comentários
O Primeiro-Ministro britânico, Boris Johnson, expressou a "maior admiração" pela Rainha Isabel II, mas recusou-se a comentar as confidências do príncipe Harry e da mulher Meghan na televisão americana, bastante críticas para a família real.
"Sempre tive a maior admiração pela Rainha e pelo papel unificador que ela desempenha no nosso país e em toda a Commonwealth", disse Johnson, numa conferência de imprensa.

Porém, questionado sobre se a família real deveria investigar as alegações de racismo, afirmou: "Passei muito tempo sem comentar questões da família real e eu não tenho intenção de começar hoje (segunda-feira) ”.
Também o líder do Partido Trabalhista, Keir Starmer, evitou dizer se o Palácio de Buckingham deveria investigar o que foi dito na entrevista, mas disse que "precisam de ser levadas muito, muito a sério".

"São alegações em relação à raça e saúde mental - isso é maior do que a família real", afirmou aos jornalistas, durante visita a uma escola no leste de Londres.

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