Os músicos Carlos Lamartine e Gersy Pegado defenderam, quinta-feira, no Palácio de Ferro Centro Cultural, em Luanda, maior protecção e promoção da identidade angolana dentro da produção cultural actual. Os artistas fizeram parte do debate à volta do tema "Reflexão Sócio-Histórica sobre a Conquista da Paz como Factor de Desenvolvimento e Massificação das Artes em Angola", promovido em alusão ao Dia da Paz e da Reconciliação Nacional.
O músico Carlos Lamartine apresentou como argumentação crítica a falta de cumprimento dos objectivos prometidos para o ramo cultural após a conquista da Independência Nacional.
Na visão do músico, com o passar do tempo algumas franjas da sociedade deixaram de perseguir a sua identidade, perdendo-se, na maior parte das vezes, com aquilo que vinha do ocidente. O músico lamentou, igualmente, o facto de não se ensinar as línguas nacionais nas escolas.
"Enquanto não se tirar o pensamento europeu na cabeça do angolano, a cultura nacional não vai evoluir. Antes da libertação, vivíamos debaixo de um colonialismo que impedia que a cultura angolana pudesse ser inclusiva a todo o angolano, por isso, naquela época tínhamos vergonha de nos expressar na língua nacional. Porque éramos impedidos pelo sistema, que nos alimentava que deveríamos apenas falar português", disse.
Carlos Lamartine sublinhou que após o alcance da Independência, um dos grandes objectivos era a massificação e valorização da cultura, ideal que levou vários artistas a tomarem nas suas obras a responsabilidade de movimentar as massas para a materialização deste objectivo.
"Criou-se instrumentos musicais, grupos de dança e de teatro, além disso, os músicos foram recomendados a fazer canções com o objectivo de mostrar a identidade do povo angolano", detalhou.
De acordo com Carlos Lamartine, tudo seguia bem, porque a defesa da identidade cultural era um dos pilares principais para construção do país, um cenário que diz não constatar nos dias de hoje.
"A comunicação social habituou a nova geração com um tipo de música que mudou o pensamento da juventude, tanto no domínio da dança, teatro e demais disciplinas artísticas. Não estamos a fazer arte partindo puramente dos pressupostos da nossa identidade popular”, criticou.
Por outro lado, a cantora Gersy Pegado afirmou, igualmente, que o estado da cultura actual ainda não é o desejável, sublinhando haver uma letargia no que toca a apoios e incentivos que permitam a expansão e dinâmica da produção cultural.
Por sua vez, a professora de dança Elizeth Rodrigues reconheceu que o sector ganhou muitas pessoas ligadas às artes que conseguiram criar projectos de formação para artistas.
Segundo a professora, actualmente se pode festejar por se ter uma escola de ensino artístico que é o CEART, o Centro do Bengo e duas escolas de ensino superior de arte.
"Se for a olhar para isso, afirmo que teve alguns ganhos, mas se for a analisar, também, quanto à promoção da cultura nacional no pacote de realizações de eventos, salas disponíveis para que os artistas executem o seu trabalho, vamos ver que a cultura ainda tem muito a fazer", enfatizou.
Quanto a desafios, Elizeth Rodrigues disse que ainda não existem grandes oportunidades no meio cultural, afirmando esperar mais sensibilidade de muitos gestores públicos para o que é essencial para a preservação da cultura nacional.
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