O Festival Internacional de Jazz, agendado para decorrer de 30 deste mês a 1 de Maio, na Baía de Luanda, tem já confirmada a participação de 40 músicos, entre nacionais e estrangeiros, e o regresso da exposição de artes visuais com obras de 23 artistas plásticos, anunciou, sexta-feira, em conferência de imprensa, no Centro de Imprensa da Presidência da República, CIPRA, o porta-voz da Bienal de Luanda, Neto Júnior.
O artista plástico, João Cassanda, com a obra “Mumuíla Feliz”, e o escultor Virgílio Pinheiro, com a escultura “Piéta Angolana”, são os vencedores da 17.ª edição do Grande Prémio ENSA-Arte 2024, tendo arrebatado uma estatueta e um cheque no valor de seis milhões de kwanzas.
Artistas e investigadores consideram que a eleição do Semba como palavra do ano, pela Plural Editores, confirma o sentido de identidade e pertença que o estilo musical representa para os angolanos. O feito aconteceu meses depois da elevação do Semba a Património Imaterial Nacional.
O Jornal de Angola ouviu a reacção de algumas personalidades ligadas ao movimento cultural, como Cecília Gourgel, directora do Instituto Nacional do Património Cultural. "O Semba não é apenas a palavra do ano, aconselho a ouvirem Paulo Flores e Carlos Burity. O semba é a nossa bandeira”, ressaltou.
A funcionária sénior do Ministério da Cultura e Turismo recordou o processo que culminou com a elevação do Semba a Património Imaterial. "Com o Semba também colocamos no topo a dikanza e os trajes característicos das bessanganas, outros elementos identitários nossos”, realçou.
Por sua vez, Albino Carlos, escritor que está a preparar uma trilogia sobre a Música Urbana Angolana, considerou excelente esta notícia. "Pode dar um impulso no processo de reconhecimento do Semba como Património Imaterial da Humanidade, porque ele é o melhor intérprete que Angola escolheu para melhor dizer e mostrar ao mundo o que somos. O Semba espelha a espiritualidade e alma angolanas”, sublinhou.
A concluir, Albino Carlos reforçou que o Semba, "como mais nenhum outro género musical, é o ritmo que mais dialoga com os demais estilos nacionais, sendo uma prática sociocultural, um paradigma rítmico, um sistema composicional e um modo expressivo que tem sido incorporado na gramática da música mundial, no quadro do processo de afirmação internacional da cultura angolana”. No dia 18 de Janeiro, o académico e jornalista Albino Carlos dissertou sobre "O papel da música na consolidação da identidade nacional: o factor Semba”, na Academia Angolana de Letras.
Isaías Afonso, jornalista e realizador do programa "Poeira no Quintal”, da Rádio Nacional de Angola (RNA), segue a mesma linha de pensamento do colega e amigo Albino Carlos.. "O Semba é, hoje, uma palavra de ordem no nosso mosaico sociocultural. Está na nossa identidade, daí termos um movimento que contagia positivamente o país na dança, na canção e na aprendizagem de instrumentos como a dikanza, o bate-bate, o ngoma e muitos outros instrumentos de percussão que dão sustentação ao ritmo Semba”, realçou.
Nvula Muzenza, para os amigos, nas tertúlias do Semba, reforça: "Tal como disse um dia o Mestre Liceu, ‘canção pura é a canção do rua’, o Semba é mesmo particularmente nosso, com variantes que embelezam ainda mais o nosso acervo musical, facilitam a criatividade dos compositores nacionais e mexem com a cabeça dos instrumentistas, que hoje se dedicam a estudar os nossos ritmos, seguindo, pois claro, os pioneiros da Música Popular Urbana Angolana”.
"Os organizadores encontraram, penso eu, de forma consensual, a palavra Semba, pelo privilégio de ter sido a mais pronunciada no ano de 2023 em Angola”. Este foi o primeiro pronunciamento de Dom Caetano, músico e investigador, que falou pela Galeria do Semba.
O autor de "Sou Angolano” continuou dizendo que "as razões são evidentes, por enquanto acresço que no ano de 2023 foi o culminar de um trabalho árduo que elevou o Semba a Património Imaterial Nacional. Absorveu as mais amplas discussões, debates e outros encontros sobre música angolana e caracterizou o mercado musical como o estilo que mais se destacou na produção musical, em festas, diversões e entretenimentos”, acentuou.
Para concluir, Dom Caetano considerou terem "acertado na mosca e realizado um trabalho transparente e digno de louvor, que deve merecer da classe musical nacional todo o respeito e consideração”.
Uma grande vitória
Manuel Claudino "Manuelito”, do Conjunto "Os Kiezos” é um homem que muito contribuiu para a consolidação da música angolana, considera a eleição do Semba a Património Imaterial Nacional uma grande vitória. "É um ganho para quem como eu trabalhou muitos anos na construção do Semba e de outros ritmos nacionais. Acho que há preocupação, a nível do Ministério da Cultura e Turismo, no sentido de levar isso para instituições internacionais que valorizem e qualifiquem o Semba como música e ritmo de Angola”, disse.
O Semba tem motivado vários concertos e encontros temáticos, sendo o Muzonguê da Tradição um dos mais emblemáticos. Kuimbila Ni Kukina Semba, Praça do Semba, no Quintal com o Semba, Semba na Calçada, Palco do Semba, Muzonguê do Ngoló e Mestres do Semba são algumas iniciativas que confirmam esta tendência.
A Plural Editores elegeu o Semba como palavra do ano 2023, "o orgulho de ser angolano”, lê-se na nota justificativa. "Ouve-se nas ruas, nas casas, nas festas e agora tem lugar de destaque”, ao ser eleito Património Imaterial Nacional.
Ainda de acordo com o documento da Plural Editores, um dos factores que motivou a escolha da palavra foi a elevação como Património Imaterial Nacional pelo Ministério da Cultura e Turismo. "Mesmo antes de se tornar oficial, o Semba já era motivo de orgulho nacional, contando com diversas homenagens musicais de grandes artistas”, reforçou a editora.
Esta foi a oitava edição da Palavra do Ano, iniciativa que já elegeu em 2023 a palavra Semba, e em anos anteriores os eleitores escolheram as palavras zungueira, pandemia, IVA, esperança, exoneração e crise.
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