Cultura

António Fonseca defende que a literatura oral deve ser praticada nas escolas

O escritor António Fonseca defendeu, esta quarta-feira, na União dos Escritores Angolanos (UEA), em Luanda, a necessidade de se cultivar a presença constante da literatura oral no sistema de ensino angolano, sobretudo no processo educativo das crianças.

02/06/2023  Última atualização 08H25
O escritor António Fonseca (ao centro) à mesa de debate que abordou a importância das tradições orais angolanas na formação da personalidade © Fotografia por: Edições Novembro
O alerta foi deixado durante uma palestra na habitual rubrica da UEA, designada "Maka à Quarta-Feira”, onde, ao longo de 20 minutos, o escritor fez inúmeras declarações à volta do tema "A Importância das Tradições Orais Angolanas na Formação da Personalidade". 

"A literatura oral na sua vasta dimensão deve ter presença constante na vida quotidiana, para que as riquezas educativas presentes nesses textos orais, devam ocupar o seu espaço no sistema educacional angolano", disse.

Com isso, sublinhou, teremos duas vantagens, por um lado, a preservação das línguas nacionais, e, por outro, o enriquecimento do universo simbólico e imaginário da língua portuguesa, através da transposição das mensagens e formas estéticas que estão presentes nos textos.

 "Temos de ter a ousadia de utilizar a língua portuguesa de acordo com as nossas necessidades. Além disso, as expressões que emigram das línguas nacionais devem fazer parte do nosso português de forma oficial, o Brasil é um exemplo a seguir neste aspecto", destacou.

Para explicar melhor sobre "A importância das Tradições Orais Angolanas na Formação da Personalidade", de forma breve, António Fonseca definiu primeiramente o termo personalidade, como um conjunto de características do homem, que determinam a sua forma de pensar, sentir e agir.

"Isto significa que a personalidade é um elemento imprescindível na maneira como o homem é visto no meio social, por ser um factor indissociável dos padrões deste de agir", explicou.

O escritor frisou que a formação da personalidade é feita, principalmente por meio da cultura, e, sublinhou, no nosso caso específico, como angolanos, temos muitas influências culturais das tradições orais acabam por desempenhar um forte papel na formação da nossa personalidade.

"É nela onde encontramos os valores matriciais da angolanidade, é um património onde habita o essencial da nossa memória colectiva, que não se limita as questões de se saber ler ou escrever, muito menos de questões que envolvam níveis académicos, mas, sim, de uma atitude perante a realidade, que  analisa um facto, para depois o explicar", disse.

 A seu ver, não se pode confundir a questão da oralidade com o facto de se saber ou não escrever, alertou, aliás, há épocas na história de África que alguns povos renunciaram a escrita, para se manterem fiéis nas tradições orais. "Não houve uma substituição da palavra dita, pela palavra escrita".

Apesar do desenvolvimento tecnológico, e da expansão do texto escrito, António Fonseca observou que esses factores não colocam em causa a existência da tradição oral. "Várias tradições orais que passaram para escrita vão continuar na oralidade, por que, como já disse, ela representa uma valor importante por causa da atitude que tem perante a realidade", disse. O escritor António Fonseca afirmou que não pode pensar que os valores dessas tradições ficaram no passado, "estes continuam presentes, por exemplo, se assistirmos a um casamento costumeiro, mesmo aqui em Luanda, poderemos constatar que as mesmas práticas se mantêm, isso se evidencia também em vários óbitos".

"As tradições orais continuam sólidas em várias comunidades, as sociedades encontram formas e sempre vão encontrar de transmitir às outras os seus valores", disse. Afirmando, ainda, que essa tradição se assenta na existência de uma superfície social, que a explica e a justificativa, tratando-se de uma questão que comporta identidade das comunidades.

A Maka à Quarta-Feiratambém serviu para  o crítico literário Hélder Simbad fazer, durante cerca de 15 minutos, considerações à volta do tema "O Lugar da Literatura Oral no Lugar na Teoria da Literatura Contemporânea".

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