Política

Antigos companheiros enaltecem feitos na defesa do país

Lourenço Bule | Menongue

Jornalista

Os antigos companheiros do tenente-general reformado António Domingos Valeriano destacaram, quarta-feira, em Menongue, a entrega do ex-comandante da 5ª Divisão de Infantaria das Forças Armadas Angolanas (FAA), na província do Cuando Cubango, na derradeira Batalha do Cuito Cuanavale, que culminou com a Independência da Namíbia, queda do regime do Apartheid e a libertação de Nelson Mandela.

02/12/2023  Última atualização 09H23
Antigos companheiros, em Menongue lamentam © Fotografia por: Arquivo
De 2008 a 2011, o tenente-general António Valeriano comandou a 5ª Divisão de Infantaria das Forças Armadas Angolanas no Cuando Cubango, depois de, em 1987 e 1988, ter combatido lado a lado com vários guerreiros na histórica Batalha do Cuito Cuanavale.

Com lágrimas nos olhos e semblante triste, o primeiro-sargento João Mbinga contou ao Jornal de Angola que, com apenas 15 anos de idade, na altura soldado das Forças Armadas Populares de Libertação de Angola (FAPLA), foi destacado como guarda pessoal de António Valeriano, entre 1987 e 1988.

João Mbinga explicou que o tenente-general António Valeriano, antes e depois de estar no comando da 5ª Divisão das Forças Armadas Angolanas no Cuando Cubango, sempre foi um comandante carismático e simpático com as tropas nos bons e maus momentos.

"Trabalhamos juntos durante todas as acções na Batalha do Cuito Cuanavale”, disse, acrescentando ter 20 anos de convívio com o comandante António Valeriano e nunca teve razões de queixa, "porque sempre foi um pai”.

O primeiro-sargento das FAA, visivelmente abalado, realçou que durante o tempo de trabalho conjunto era sua a responsabilidade organizar o dormitório, a alimentação e outras tarefas. "Quando recebi a notícia, fiquei totalmente triste, porque foram 20 anos juntos e durante esse tempo nunca tinha visto grandes erros dele. Tanto é que sempre que ia ao Cuito Cuanavale para as celebrações do 23 de Março, tinha a amabilidade de procurar por mim e ofertar-me sempre algo”, lembrou.

Combatente da liberdade e pai dos militares

O tenente-coronel Magalhães Helena Pombal, chefe da Repartição de Armamento e Técnica da 5ª Divisão de Infantaria da Região Militar Sul, disse que António Valeriano é um combatente da liberdade e pai de todos os militares que se entregaram na derradeira Batalha do Cuito Cuanavale.

Magalhães Helena Pombal contou que conheceu o tenente-general na altura com a patente de capitão e já era o comandante da 25ª Brigada, no Cuito Cuanavale, isto em 1988, depois do desenrolar dos combates.

Na altura, Magalhães Helena Pombal, com 17 anos de idade, era aspirante e especialista de armamento e técnica blindada, facto que originou o contacto direito com António Valeriano, que o convidou a remover um tanque sul-africano do Cuito Cuanavale para Menongue, depois de ter sido abandonado durante a guerra.

"O comandante tinha dado conta que havia um tanque que os sul-africanos tinham abandonado, para além dos que já estavam danificados. Na altura, como especialista em armamentos e técnica blindada, tínhamos que intervir para remover o tanque do triângulo do Tumpo (Cuito Cuanavale) para a cidade de Menongue, com destino a Luanda, mas não foi possível, porque a torreta era muito alta e fomos obrigados a desmontá-la e deixar o meio no Aeroporto Comandante Kwenha”, recordou.

Magalhães Helena Pombal sublinhou que o comandante António Valeriano foi como um pai para os militares e ensinou a realizar trabalhos em todas as unidades do Cuito Cuanavale e nunca houve problemas, até porque incitava a coragem para a defesa da pátria.

"De 1987 a 1990, trabalhamos juntos e sempre com boas lembranças. Já na época de paz, isto em 2002, sempre nos encontrávamos nas festividades do 23 de Março, como membros do Fórum dos Combatentes da Batalha do Cuito Cuanavale (FOCOBACC)”, disse, frisando que, nesta altura de luto, se sente muito constrangido.

O major Quinito Baptista Evaristo é oficial da Repartição Patriótica do Comando da Região Militar Sul que, em 1988, ostentava a patente de aspirante e combateu ao lado do tenente-general António Valeriano em Menongue, Mavinga e Cuito Cuanavale (Cuando Cubango) e Matala (Huíla) durante cinco anos.

Depois da derradeira Batalha do Cuito Cuanavale, o major deslocou-se para a cidade de Menongue em companhia do tenente-general para cumprirem uma missão no município da Matala, província da Huíla, em busca de alimentação para as tropas.

De regresso à Matala, foram novamente ao Cuito Cuanavale, altura em que se desfizeram as brigadas e formaram-se os grupos tácticos para a retomada do município de Mavinga. Quinito Evaristo recordou que se separou, nessa época, do comandante António Valeriano, até ao reencontro em 2011.

"Como comandante da 25ª Brigada, foi sempre um bom chefe. Conversava com todos para que uma determinada missão saísse com êxito.  Por isso, fiquei muito triste ao tomar conhecimento do passamento físico do comandante e lembro-me dos momentos que passamos juntos nos combates”, disse.

Governador consternado

O governador do Cuando Cubango, José Martins, através de uma mensagem de condolências, enalteceu os feitos do tenente-general reformado e endereçou os sentimentos de pesar à família enlutada.

José Martins referiu que o tenente-general foi um patriota abnegado, tendo em conta a entrega e dedicação em prol dos interesses mais nobres da Nação, enquanto defensor da Independência Nacional e da integridade territorial do país.

A partida prematura deste patriota, referiu, causa uma perda irreparável no seio do povo do Cuando Cubango, por conta de que foi nesta parcela territorial onde se destacou em muitas missões e condecorado com honras em vários momentos.

Comentários

Seja o primeiro a comentar esta notícia!

Comente

Faça login para introduzir o seu comentário.

Login

Política