Política

Angola reitera apelo a um cessar-fogo definitivo na guerra Rússia e na Ucrânia

Edna Dala

Jornalista

O ministro das Relações Exteriores reiterou, quarta-feira, que Angola defende no conflito que opõe a Rússia e a Ucrância uma solução negociada, com base no diálogo e na implementação de um cessar-fogo entre as partes.

26/01/2023  Última atualização 08H18
Ministro Téte António (à direita) e o homólogo russo abordaram assuntos de interesse comum ligados à política internacional © Fotografia por: Kindala Manuel | Edições Novembro

Téte António avançou este posicionamento durante a conferência de imprensa conjunta com o homólogo russo, Sergey Lavrov, no edifício das Relações Exteriores.     

"Tendo em conta a relação histórica com a Rússia e as relações que também temos com a Ucrânia, pensamos que é aplicável aqui o princípio da não indiferença defendido pela União Africana”, disse. Além das questões de cooperação mútua, regionais e internacionais os ministros abordaram também sobre a reforma da Organização das Nações Unidas.

No âmbito regional, Angola privilegia o diálogo inclusivo, os compromissos políticos assentes no interesse nacional para o restabelecimento da ordem constitucional e garantir assim a estabilidade dos países em conflitos, respeitando sempre o princípio da não ingerência nos assuntos internos de cada um dos Estados.

Angola, segundo o ministro das Relações Exteriores, defende a via negocial e a busca por uma solução mutuamente aceite e contra todos os flagelos que afectam a estabilidade e o desenvolvimento, primando sempre pelo respeito internacional, disse.

Téte António manifestou a preocupação do Governo angolano com as inúmeras baixas humanas e a destruição de infraestruturas provocadas pelo conflito que opõe a Rússia e a Ucrânia. "A guerra constitui uma ameaça à paz e à segurança internacional, o que nos leva a concluir que todas as nações do mundo são vítimas, de várias formas, deste conflito”, ressaltou.

Nesta ordem de ideias, o chefe da diplomacia angolana encorajou as autoridades russas a darem uma chance e resgatar o estatuto e o prestígio do país e da história, estabelecendo, como defendeu o Presidente João Lourenço, um cessar fogo definitivo que possa restabelecer um clima de paz mundial.

O chefe da diplomacia angolana abordou, também, questões regionais, com destaque para o papel de Angola na Região dos Grandes Lagos, SADC e CPLP, bem como a assumpção da presidência da Organização dos Estados de África, Caraíbas e Pacífico (OEACP), mereceram, igualmente, a atenção das duas entidades durante a reunião.

Por seu turno, o ministro dos Negócios Estrageiros da Rússia afirmou que posições do seu país sobre a cooperação no domínio internacional coincidem com as de Angola. "Nós também defendemos os grandes princípios da Organização das Nações Unidas, nomeadamente o princípio da não ingerência nos assuntos de cada Estado e a igualdade soberana dos Estados”, disse.

Sergey Lavrov garantiu que a Rússia apoia o posicionamento sobre a reforma do Conselho de Segurança das Nações Unidas, no sentido de alargar a participação dos países em vias de desenvolvimento, como África, Ásia e a América Latina.

Quanto a avaliação solicitada pelo ministro das Relações Exteriores sobre o conflito com a Ucrânia, Lavrov chamou atenção dos esforços ocidentais no sentido de transformarem a Ucrânia no palco da guerra híbrida contra a Rússia.

Relativamente às relações com Angola, o ministro russo dos Negócios Estrangeiros considerou-as "históricas e de amizade” entre os dois países, "comprovadas pela história”, continuam a desenvolver-se, no quadro do entendimento entre os dois Chefes de Estado.

Esses entendimentos, esclareceu, incluem a cooperação no domínio Económico, Técnico Militar e Humanitário, Espacial e Agroindústria, avaliadas ontem na reunião bilateral.

Para Sergey Lavrov, as boas relações entre os dois países não estão sujeitas a "peripécias geopolíticas”, por remontarem de longos anos, desde o período da guerra de libertação em Angola. "Essas relações baseiam-se no espírito de solidariedade e de apoio mútuo e apreciamos esse facto”, referiu.

Novas áreas de cooperação

O ministro das Relações Exteriores, Téte António, considerou, ontem, a visita a Angola do homólogo russo, Sergey Lavrov, uma oportunidade para se aprimorar os mecanismos de cooperação e identificar novas áreas para o alargamento das relações bilaterais.

Ao intervir na abertura de uma reunião entre delegações dos dois países, o chefe da diplomacia apontou os sectores Agrícola, da Agroindústria e Indústria Transformadora, entre outras, como as possíveis áreas de cooperação.

A visita do ministro russo no país, disse, consubstancia-se igualmente, numa oportunidade para se analisar a perspectiva da cooperação, incluindo a realização da cooperação intergovernamental Angola – Rússia que, em princípio, acontece no mês de Março, em Luanda. Um facto, que no entender de Téte António, constitui uma garantia para um diálogo franco entre "amigos tradicionais” sobre as relações e outras questões de interesse comum. Em declarações à imprensa, depois da reunião bilateral, o ministro das Relações Exteriores informou que as partes concordaram em aprofundar vários outros aspectos de cooperação, tendo em conta a dinâmica existente entre os dois países e a "atmosfera internacional”. Sem entrar em detalhes, Téte António disse que o aprofundamento deverá ser mantido através da Comissão Bilateral e do diálogo de sectores dos dois países.

Durante as conversações em que estiveram presentes os ministros dos Recursos Minerais, Petróleo e Gás, Diamantino Azevedo, e das Telecomunicações, Tecnologias de Informação e Comunicação Social, Mário Oliveira, foi colocado um acento particular no que diz respeito à cooperação entre os dois países no sector Diamantífero.

Téte António defendeu que este sector "requer soluções inovadoras”, tendo em conta o peso que representa na economia nacional e as dificuldades que hoje encontramos. O ministro das Relações Exteriores e o homólogo russo abordaram, também, as "mudanças de paradigma do Executivo”, no que diz respeito as suas prioridades para o desenvolvimento nacional. Téte António referiu-se à execução em curso do Governo do programa de privatizações de empresas públicas, com prioridades viradas para os programas de diversificação da economia.

 

  Cimeira Rússia – África acontece em Julho

O ministro dos Negócios Estrangeiros russo anunciou, para o mês de Julho deste ano, na cidade de São Petersburgo, a realização da 2ª Cimeira Rússia – África.

Sergey Lavrov deu a informação durante um encontro com o homólogo angolano, Téte António. Na reunião, os dois ministros trocaram opiniões e fizeram um balanço dos resultados da 1ª Cimeira, que teve lugar em 2019, na cidade de Sóchi, Rússia.

Lavrov disse que foi acordada entre as partes a aceleração do processo de preparação e assinatura de vários instrumentos bilaterais, em particular os projectos relacionados com os centros culturais, energia atómica, programas humanitários e outros.

O ministro dos Negócios Estrangeiros russo fez saber que o seu país apoia o esforço da União Africana, SADC e de Angola, em particular o empenho pessoal do Presidente João Lourenço, na resolução dos conflitos.

"O Presidente Lourenço está a desempenhar um papel de particular importância na Presidência da Conferência dos Grandes Lagos”, notou Sergey Lavrov, granatindo que, "nas Nações Unidas, a Rússia vai continuar a apoiar as posições defendidas pelos países africanos no sentido de se encontrar soluções dos conflitos”.

Sobre a reunião com o homólogo angolano, o chefe da diplomacia russa concluiu que o mesmo permitiu reafirmar a importância do diálogo aberto e o espírito de amizade. Lavrov aproveitou a oportunidade para convidar Téte António a visitar a Rússia.

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