Política

Angola prepara projecto de electrificação para interligar Estados-membros da SADC

Elizandra Major

Jornalista

Angola está a preparar o projecto de interligação de energia com os países da Comunidade de desenvolvimento da África Austral (SADC), de modo a atrair investimento privado.

28/05/2024  Última atualização 10H01
Os ministros da Energia e Águas estão analisar , em Luanda , um conjunto de temas de interesse comum para a região © Fotografia por: Arsénio Bravo | Edições Novembro | Moroni

A informação foi avançada, ontem, em Luanda, pelo ministro da Energia e Águas, João Baptista Borges, durante a abertura da Reunião Conjunta do Comité de Ministros responsáveis pelo sector de Energia e Águas da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC).

 João Baptista Borges garantiu que os projectos visam facilitar o investimento privado e atrair empresários que queiram vender energia nos países vizinhos. A ideia, segundo o ministro, é reduzir o défice de energia que estes países vivem.

Os referidos programas, segundo o ministro, não vão ser feitos com investimento público. "São projectos de iniciativa privada. A única coisa que o Estado vai fazer é vender aos privados a energia que eles vão transportar para os países vizinhos”, garantiu.

"Vamos utilizar o nosso excedente de energia para ir buscar recursos cambiais, não nos podemos esquecer de que a energia é uma commodity. Logo, se o país vende energia o seu excedente aos países vizinhos vai buscar recursos cambiais que utiliza para electrificar o interior do país”, assegurou.

O ministro da Energia e Águas considerou o evento de elevada importância para a região, tendo sublinhado que Angola assume a presidência da SADC "e não podíamos deixar perder a oportunidade de organizar uma reunião de Ministros da Energia e Águas, entendendo aqui energia como electricidade e petróleos para tratarmos de assuntos e problemas que são comuns à região”, frisou.

 
Défice energético na região

De acordo com o titular da pasta da Energia e Águas, o sector vive algumas crises energéticas em Estados-membros que actualmente afectam as suas economias, razão pela qual Angola defende a necessidade de uma interligação eléctrica entre os países da região e a adopção de combustíveis menos poluentes para as carências de electrificação dos vários países, bem como a aprovação de uma estratégia comum dos recursos hídricos, particularmente os partilhados, para fazer face aos efeitos negativos das alterações climáticas.

 "Existe um conjunto de temas que são de interesse comum e que justificaram a convocação desta reunião de Ministros da Energia e Águas dos países da SADC”, disse.

No capítulo da água, o ministro explicou que existem problemas relativamente ao acesso à água, que ainda é insuficiente para as necessidades dos países e o combate às doenças como a cólera, que tem afectado de forma gravosa a região. Número de habitantes com acesso à água potável.

Questionado sobre o número de pessoas que têm acesso à água potável, João Baptista Borges revelou que o país tem uma taxa média de acesso de 65 por cento, numero que ainda é insuficiente, comparando com a realidade das grandes urbes, como é o caso de Luanda.

Para dar mitigar a situação, o ministro disse que está a ser feito um esforço significativo de investimento em infra-estrutura para a construção de novos sistemas de tratamento e distribuição de água.

João Baptista Borges referiu-se à construção, em Luanda, dos sistemas de água do Bita e do Quilonga e de dois novos sistemas em Saurimo, na Lunda-Sul. Explicou que o país tem uma taxa de natalidade de cerca de três por cento ao ano, ou seja, mais de um milhão de pessoas nascem todos os anos, crescendo também as necessidades de água, de forma que o investimento na infra-estrutura de abastecimento de água para as populações é um investimento que tem que ser feito continuamente.

O ministro garantiu que o país tem dado passos significativos para dar cobro às situações deficitárias. "Há alguns anos, vivíamos numa situação deficitária em praticamente todo o país e hoje temos superado a produção de energia, o que não elimina a necessidade de nós fazermos ainda mais investimentos”, realçou.

A província do Moxico, disse, tem cerca de 12 localidades incluídas num amplo projecto de electrificação rural, programa que inclui todas as províncias do Leste e vai incluir quatro outras províncias do Sul de Angola, onde vão ser instalados sistemas de produção e distribuição de energias limpas.

O referido projecto, esclareceu, só vai incluir energias renováveis, sem combustível, e que vai permitir o acesso à energia eléctrica a cerca de seis milhões de pessoas até fim de 2027.

João Baptista Borges informou, ainda, que a grande prioridade é investir nas redes de transporte de energia para interligar a região Centro, que compreende Benguela, Huambo e Bié, com a região Sul, que é composta pelas províncias da Huíla, Namibe, Cunene e Cuando Cubango, bem como interligar o Leste do país.

 
Perdas na região

A secretária executiva do processo de integração da SADC, Angéle Makombo N’tumba, declarou que existe um défice de energia eléctrica na região decorrente de vários factores. "O que o ministro indicou é absolutamente correcto. Há de facto um défice substancial a nível regional no sector energético decorrente de vários factores”, disse.

Angéle Makombo N’tum-ba revelou que a região perde em termos de investimentos cerca de 64 biliões de dólares por ano. Para superar este défice, explicou que estão em diálogo com parceiros internacionais de cooperação e com os Estados-membros no sentido de investirem mais nos orçamentos nacionais para se reverter o actual quadro.

Sobre os países da SADC que mais apresentam défices energéticos, a secretária executiva do processo de Integração referiu que todos os países da região apresentam a mesma problemática.

"Eu viajo por toda a região e verifico que em todos os países da região se apresentam os mesmos desafios. Mesmo aqueles com economia de maior dimensão, como por exemplo, na África do Sul, verificam-se com frequência cortes energéticos”, explicou.

Angéle Makombo N’tumba sublinhou que actualmente existe um abrandamento no fornecimento energético, o que constitui um obstáculo à industrialização. O encontro dos ministros de Energia da SADC, que decorre em Luanda, termina na próxima sexta –feira.

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