Sociedade

Angola entre os países de carga elevada

Embora haja esforços, como esse da construção, ampliação e modernização do Sanatório de Luanda, o país tem ainda outras batalhas a vencer.

24/03/2021  Última atualização 09H00
© Fotografia por: Rafael Tati | Edições Novembro
 Por exemplo, Angola continua na lista dos 30 Estados com as cargas de tuberculose mais elevadas do mundo, num subgrupo de 20 nações onde o número de pessoas infectadas pela doença está entre dez mil e 500 mil casos, revela Ambrósio Disadidi.
Com Angola, estão nesse "Subgrupo 1” países como República Democrática do Congo, África do Sul, Moçambique, Etiópia, Tanzânia, Coreia do Norte e Vietname. Esses Estados só perdem, em termos de números, para a Índia, com mais de um milhão de casos, Indonésia, China, Paquistão e Nigéria, com mais 500 mil a um milhão de doentes.

O coordenador do Programa Nacional de Controlo da Tuberculose acrescenta que, no "Subgrupo 2”, estão os restantes dez países, sendo os que a taxa de pessoas a desenvolver a TB por habitantes é bastante elevada, com mais ou menos dez mil casos por ano. Destaque para o Congo, Zâmbia, Namíbia e Lesotho.

Para sair dessa lista, Angola traçou um Plano Estratégico Nacional de Luta contra a Tuberculose 2018/2022, com vista a acelerar a redução da incidência e da mortalidade por TB, baseada nos princípios de direito à saúde, universalidade, equidade, integração e participação comunitária.
Ambrósio Disadidi diz que a visão é o país conseguir eliminar a carga da TB e reduzir em 35% a morbilidade e mortalidade por tuberculose. Por isso, defende uma maior sensibilização da população nas principais línguas regionais, prevenção da doença pela vacinação, rápido diagnóstico da TB, tratamento precoce e seguimento do paciente em tratamento até a cura.

O coordenador nacional salienta ainda que há projectos para o reforço da parceria para expandir o Tratamento Observado Directamente (DOT) nas comunidades, passando pela maior e melhor capacitação dos recursos humanos, envolvimento da sociedade civil.


Rede sanitária  
O médico explica que um despacho do Ministério da Saúde, nº 519/2018, de 13 de Setembro, determina a expansão da rede de atendimento de casos de TB. Com a implementação dessa orientação, o número de unidades passou de 115 para 350 locais de diagnóstico e tratamento da enfermidade.

Desta forma, explica, um paciente com TB pode ser atendido em qualquer unidade sanitária, tendo em conta o reforço da rede de laboratórios de diagnóstico. Actualmente, o país conta com 171 laboratórios de baciloscopia, incluindo os hospitais sanatórios e dispensários anti-tuberculose.
O coordenador nacional anuncia que, nos próximos tempos, esforços vão incidir sobre a instalação de máquinas GeneXpert nos 164 municípios, tendo em conta que esses aparelhos detectam o bacilo de Kock, agente causador da tuberculose, e a eventual resistência do bacilo detectado a Rifampicina, em quatro horas.

Neste momento, o país conta com 54 máquinas GeneXpert, para a detecção da resistência a Rifampicina, e quatro aparelhos Bactec, para o diagnóstico da tuberculose extremamente resistente, cultura e testes de sensibilidade aos antibióticos.
Com estas condições, Ambrósio Disadidi salienta que os pacientes deixam de percorrer longas caminhadas para o acesso ao diagnóstico e ao tratamento, o que reduz a taxa de desistências e de óbitos.

No primeiro semestre de 2020, por exemplo, dos 29.496 pacientes submetidos ao tratamento, 4.465 abandonaram a medicação, ou seja, uma taxa de abandono de 15%. Já em relação às mortes, revela que o país registou, em todo o ano passado, 1.419, representando uma taxa de letalidade de 5%, entre o total de 65.821 casos notificados.


OS NÚMEROS PELO PAÍS
Luanda lidera infecções


Quanto às províncias com maior incidência da doença nas unidades sanitárias, o quadro da Direcção Nacional de Saúde Pública aponta Luanda, a capital do país, com 24.593 casos, Benguela, 9.275, Huíla, 4.975, Bié, 3.148, e Cuanza Sul, 2.889 doentes.
"Prefiro falar em taxa de prevalência para melhor comparar”, salienta. Assim, lista as províncias do Namibe, com 431 casos por 100 mil habitantes; Benguela, 355; Luanda, 288; Cuanza Norte, 275; e Cuando Cubango; 228 registos por 100 mil habitantes.


No caso da incidência da tuberculose sobre a população angolana, Ambrósio Disadidi refere que, em 2020, a taxa foi de 204 por 100 mil habitantes.
Sobre a BCG, vacina contra a tuberculose, administrada às crianças antes de completarem um ano de vida, a cobertura, durante o ano passado, chegou a 59,2%, a nível nacional.
Em relação aos gastos com um doente de tuberculose, quer Damião Victoriano, quer Ambrósio Disadidi salientam que o custo financeiro não inclui somente o tratamento, que é gratuito. Mas há os exames de laboratório, os chamados "custos catastróficos ligados à cura da TB”, suportados pela família, que envolvem a alimentação, transporte, etc. Ainda não foram estimados pelo país.
 "O tempo está a passar”
Para este ano, a Organização Mundial da Saúde propôs o lema "O tempo está a passar”, um apelo para um maior comprometimento dos governos e das iniciativas privadas nas acções de prevenção, diagnóstico, tratamento e incentivo à pesquisa, no sentido de erradicar a tuberculose, até 2030.
O Dia Mundial da Tuberculose celebra-se a 24 de Março, desde 1982, em homenagem à descoberta do microbacterium tuberculosys, agente causador da TB, pelo médico alemão Robert Koch, em 1882.

No mundo, anualmente,  são diagnosticadas cerca de dez milhões de novos casos, causando perto de 1,4 milhões de óbitos. São ainda registados 208 mil casos de TB/VIH e 500 mil de TB multi-resistente.

Comentários

Seja o primeiro a comentar esta notícia!

Comente

Faça login para introduzir o seu comentário.

Login

Sociedade