Cultura

Ainda a propósito dos 447 anos de Luanda

A nossa velhinha cidade de Luanda “Quadricentenária e com mais 47 anitos”, a mais antiga de Angola, foi fundada a 25 de Janeiro de 1576 pelo português Paulo Dias de Novais. São Paulo de Loanda, hoje cidade de Luanda, mesmo com todas as suas “malambas”, mantém-se firme e acolhedora.

12/02/2023  Última atualização 07H25
© Fotografia por: DR

Mais de 7 milhões de habitantes  esmeram-se quotidianamente, de diferentes formas, para o seu ganha-pão, dando o seu contributo ao bem-comum e à  preservação dos  encantos nos quais músicos como Duo Ouro Negro,  Dionísio Rocha, André Mingas e Carlos Burity, só para citar alguns, se inspiraram para compor músicas de exaltação à nossa  também chamada Cidade da Kianda.

Ah,  que saudades dos "Tempos que o tempo já levou”,  quando na infância  dávamos  os mergulhos nas aprazíveis praias da Ilha de Luanda, das  excursões à Floresta da Ilha, dos passeios ao Largo do  Baleizão para degustar os apreciáveis gelados, dos divertidos momentos  passados na Feira Popular e na FILDA, das digressões à vista  privilegiada do Miradouro da Lua, das fimbas na praia do Museu da  Escravatura, do lazer passado na acolhedora estância turística da Ilha  do Mussulo... ai que saudades da capital angolana nas décadas de 60,  70 e princípios de 80...

Na  cidade, que na altura albergava mais de 500 mil habitantes, imperava o respeito e cumpriam-se as regras de convivência salutares, as  famílias na sua maioria conheciam-se, as vizinhas eram consideradas como  família, os professores, mesmo com as fortes reguadas, método hoje descontinuado, eram os mestres do conhecimento e respeitados, assim  como o eram os enfermeiros, que mais contacto tinham com os  cidadãos-pacientes, e os comerciantes que se notabilizaram nos vários  bairros, a julgar pelos famosos vales, hoje chamados kilapi, que concediam aos fregueses... 

Mudam-se  os tempos e mudam-se também os hábitos e costumes e a capital angolana,  descrita e cantada "Minha cidade é linda, é de bem-querer,  a minha cidade é linda, hei-de amá-la até morrer”, não fugiu à regra.  Hoje assiste-se a uma inversão da sua identidade, trânsito infernal, venda  desordenada nas várias artérias com zungueiros por tudo  que é canto a venderem de tudo um pouco e de forma anárquica, o que era impensável noutrora.

Ah,  que o digam as mamãs dos mercados do São Paulo, Congolenses, Kinaxixi e Regedoria de Viana... um aparte aqui para fazer uma colação  à venda ambulante que era permitida na altura, feita por algumas peixeiras e vendedeiras com balaios de peixe fresco à cabeça, frutas,  legumes e verduras com que desfilavam por alguns bairros com cânticos que  funcionavam como autênticos chamarizes às donas de casa para a compra  daqueles alimentos fresquinhos, para confecção na hora.

Oh,  que nostálgicos momentos vividos  na nossa Luanda, os "trumunus” de  futebol nos areais dos variadíssimos bairros, hoje muitos  deles tomados por betão, do tempo passado nos emblemáticos jardins e  zonas verdes da cidade, na Mutamba, no Alvalade, na Vila Alice, bem como  na privilegiada vista panorâmica da Fortaleza de São Miguel, entre  outros agradáveis locais, dos filmes assistidos nos cinemas  espalhados pela urbe, as farras de quintal, em alguns casos no  formato de "Junta panelas” e também de aniversários, assim como o  famoso carnaval de rua que movimentava inúmeros grupos carnavalescos,  com folias que alegravam e aqueciam os musseques e algumas áreas urbanas!

De  lazer não é tudo. O desporto ficou bem registado nas memórias, com  destaque para as renhidas partidas de futebol disputadas nos míticos  estádios dos Coqueiros e da Cidadela, entre as nossas grandes equipas,  na era colonial e no pós Dipanda já com o nosso Girabola e com os  Palancas Negras, onde se distinguem os torneios Angola e Cuba, Angola e Congo  Brazzaville, entre outros, assim como os grandes despiques entre  automobilistas no autódromo de Luanda, inaugurado a 28 de Maio de 1972,  cujo projecto teve o cunho do arquitecto brasileiro Ayrton Cornelsen  e do engenheiro Júlio Basso.

Auguramos  que alguém de direito conclua esta imponente infra-estrutura da nossa  capital e lhe dê a devida dignidade, para que num futuro muito próximo  possamos também ser destino turístico de amantes do automobilismo  regional e internacional, e que igual intervenção seja extensiva à total  reabilitação da Cidadela Desportiva, para o bem do desporto, em  particular do futebol, que muitas alegrias nos proporcionou, a julgar  pela sua estratégica localização, entre míticos bairros da cidade e a  parte urbana, numa grande visão de quem o concebeu, na altura, para  acolher um mundial de hóquei em patins, que estava aprazado para Angola,  em 1974, e que por razões de contexto político  não se  consumou. 

Este é um modesto retrato de um passado muito recente da nossa maior metrópole, que todos assistimos a se transformar no que é hoje. E  como 447 anos não se comemoram sempre, rendamos uma singela homenagem a todos aqueles que, de forma directa ou  indirecta, ajudaram a erguer a nossa Cidade da Kianda.

Um  recado fica aqui para todos os citadinos, sejam eles os kaluandas de  nascença ou os que escolheram Luanda para residir,  assim  como às autoridades de direito, para que cada   um,  a seu nível, faça a  sua parte para resgatarmos o bom nome, a imagem  e a mística desta que já foi considerada das cidades melhores e mais hospitaleiras  dos PALOP e da região Austral do nosso continente.

Tal  como bem profetizou o nosso Poeta Maior, e  aqui fazendo a colação a Luanda, um dia havemos de voltar, aos tempos áureos da  linda, ordenada, limpa e acolhedora Cidade da Kianda.

À  minha Luanda, à nossa Nguimbe, a todos os luandenses sem excepção, as minhas felicitações  por este quadrigentésimo quadragésimo sétimo aniversário,    augurando que os próximos  anos sejam de uma Cidade da Kianda diferente  da actual e para o melhor.

Um Kandandu forte do munícipe que ama a sua terra natal.

Higino Piedade

 

Comentários

Seja o primeiro a comentar esta notícia!

Comente

Faça login para introduzir o seu comentário.

Login

Cultura