Cultura

Acadêmicos debatem em Luanda percurso do indigenato à cidadania

Matadi Makola

O Memorial Dr. António Agostinho Neto realiza, amanhã, a partir das 9h00, nas suas instalações, em Luanda, o colóquio “Pelos Caminhos da História – do Indigenato à Cidadania”, em alusão ao Dia de África, que se assinala no sábado, cuja abertura será feita pelo vice-governador da província de Luanda para o Sector Político e Social, Manuel Gonçalves.

23/05/2024  Última atualização 11H55
António Fonseca, director da instituição que organiza o certame © Fotografia por: luís damião | edições novembro

Segundo António Fonseca, director da instituição, em declarações, ontem, ao Jornal de Angola, o certame vai reunir uma plêiade de académicos angolanos, como  Albino Carlos, que vai falar sobre a imprensa e o nascimento do moderno nacionalismo em Angola, Palmira Tchipilica, que tem um livro sobre o indigenato em Angola, Maria da Conceição Neto, que vai falar sobre o lusotropicalismo, a assimilação e os seus efeitos em Angola.

 O debate continua com Nsambu Vicente, que abordará as relações com Portugal, precisamente da cooperação à ocupação colonial, Petelo Ne-Tava vai discorrer sobre o funcionamento do poder tradicional no sistema colonial, e Osvaldo Mboko finaliza o debate falando da luta de libertação à proclamação da independência. O moderador será o professor Benjamim Fernando.

Quanto à escolha do tema, António Fonseca justificou que não se pode ignorar a História de Angola e os seus efeitos, reconhecendo que actualmente se vive um défice de recuperação para a contemporaneidade dos valores mais profundos das tradições angolanas.

"Por isso, temos de tê-la presente e encará -la de frente em toda a sua dimensão, de modo a que dominemos as ciências e a língua portuguesa mas na nossa condição de angolanos, e assim ombrearmos os desafios da globalização”, sublinhou.

Na sua contextualização dos temas, António Fonseca explicou ser preciso abordar em debate que em Angola houve ocorrências históricas que dão uma determinada idissioncrasia que não pode ser confundida com a das demais colónias portuguesas.

"Nós tivemos a questão do indigenato, e ser indígena não era ser cidadão. Só se tornava cidadão o indígena que aprendesse a ler e a escrever correctamente a língua portuguesa e renunciasse aos seus usos e costumes ancestrais. E somente aos 18 anos se podia  requerer o bilhete de identidade provisoriamente, visto que poderia ser retirado caso fosse percebido que o indivíduo continuava com as suas práticas culturais ancestrais”, detalhou.

Por outro lado, António Fonseca garantiu que o colóquio vai igualmente tratar de forma aberta e clara a aplicação da teoria lusotropicalista, que sustentou a última fase do regime colonial português e teve influência na forma de ser e estar nos países africanos dominados.

"Perguntamos porque é que em certas regiões, particularmente no litoral, se fala menos as línguas nacionais e mais o português? Porque isso é fruto da história e é preciso fazer perceber isso às pessoas. Em 1921, o regime português proibiu o uso das línguas indígenas. Isso teve um grande impacto no espaço das línguas nacionais. É preciso que as pessoas saibam e possam perceber e ler correctamente a nossa história contemporânea.

O colóquio vai debater abertamente todas estas questões”, prometeu, realçando que tudo isto se não for lido, estudado e percebido não dá a leitura correcta do processo do indigenato à cidadania.

O colóquio "Pelos Caminhos da História”, adiantou António Fonseca, enquadra-se num projecto do Memorial Dr. António Agostinho que visa trabalhar com a sociedade, privilegiando a participação do público interessado, particularmente os académicos e intelectuais. "Neste momento, as inscrições já estão encerradas, porque atingimos a máxima lotação que a sala dispõe, de concretamente 300 pessoas na assistência. Satisfaz ter aqui 300 pessoas, entre professores, investigadores e estudantes destas matérias. Está dentro da nossa missão, visando promover a investigação científica e fomentar o trabalho artístico com a comunidade”, defendeu.

"A imprensa foi fundamental para o surgimento do nacionalismo”

Segundo Albino Carlos, a sua comunicação vai reconhecer a importância que a imprensa de pendor africano teve no século XIX para o surgimento do nacionalismo. O jornalista avançou que o jornalismo angolano desempenhou, desde finais do século XIX, um papel decisivo no processo de consciencialização e propagação de ideais independentistas, assim como no próprio processo de resistência cultural à dominação colonial portuguesa.

"A imprensa foi fundamental para o surgimento do nacionalismo. Este é o propósito da minha comunicação, subordinada ao tema "A imprensa e o Nascimento do Moderno Nacionalismo Angolano”, na qual revelo como a comunicação social angolana se constituiu num dos mecanismos importantes para o exercício da cidadania, fortalecimento da democracia e consolidação da Nação”, adiantou.

Albino Carlos destaca jornalistas que tiveram um papel crucial na época, como José de Fontes Pereira, Joaquim Dias Cordeiro da Mata, António de Assis Júnior, Pedro Félix Machado, Alfredo Troni, Alfredo de Brito Aguiar, Tomaz Vieira da Cruz, pioneiros na elaboração e expressão do pensamento político embrionário do nacionalismo angolano e suas aspirações emancipacionistas.

Albino Carlos é Doutor em Comunicação e Cultura pela Universidade Federal do Rio de Janeiro e licenciado em Ciências da Comunicação pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa. Realiza uma tarde de louvor de acção de graças, no dia 26 de Maio de 2024, pelas 14 horas, na Igreja Metodista Unida, cargo pastoral Gaspar Adão de Almeida.

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