Coronavírus

A vacinação “não é uma competição ou um concurso de beleza entre países”

O presidente da Aliança Global para as Vacinas (GAVI), Durão Barroso, defende que o processo de vacinação mundial contra a Covid-19 não deve ser "uma competição ou um concurso de beleza entre países.

04/03/2021  Última atualização 09H21
Durão Barroso, Presidente da Aliança Global para as Vacinas © Fotografia por: DR
"A luta não deve ser entre países, instituições ou empresas, mas sim entre as vacinas, de um lado, e o vírus, de outro”, disse o presidente da Aliança Global para as Vacinas (GAVI) numa entrevista por escrito à agência Lusa.
"Isto não é uma competição ou um concurso de beleza entre países, o que está em causa é a própria vida das pessoas”, disse Durão Barroso.
Para o ex-presidente da Comissão Europeia, as diferenças que se verificam nos processos de vacinação têm mais a ver com "opções específicas" devidas a "situações particulares”.

Afirmando, todavia, não querer entrar em polémicas, Durão Barroso destaca que "a verdade é que, ao longo deste processo, vimos países considerados exemplares na gestão da pandemia passarem do 'céu' para o 'inferno' e inversamente”...
"A propósito da situação na União Europeia, o presidente da GAVI reconhece que "não há soluções perfeitas”, mas considera que "a cooperação entre os países europeus neste domínio é seguramente melhor que a alternativa (que seria a) de competir por suprimentos escassos”, o que "teria sido um péssimo resultado para os europeus”.

Se "os diferentes países estivessem a competir e a ultrapassar os outros com ofertas de preços mais elevados” e alguns pudessem ter acesso a mais vacinas do que outros, "alguns nem teriam ainda conseguido aceder às vacinas”, o que seria "extremamente desestabilizador para a Europa e até para a cooperação global”, considera.
É neste contexto que o presidente da GAVI sublinha que o importante "é trabalhar em conjunto, em vez de tentar "buscar a imunidade 'nacional' ou 'regional'”.

"Aquilo que é evidente quando vemos a forma como o vírus está a sofrer mutações é que não estaremos seguros em lado nenhum até estarmos seguros em todo o lado, imunizar apenas parte da população nunca derrotará o vírus e au-mentará a probabilidade de sua mutação e proliferação”, considera Durão Barroso.
Segundo o ex-presidente da Comissão Europeia, enquanto não se controlar a pandemia, não será possível voltar a um nível de actividade económica e social mais ou menos normal. "Actualmente, a melhor política económica é a política de vacinação”, reitera.

"Com as sociedades e economias em confinamento, sofrem muito a economia e o emprego (...) só a progressiva imunização nos irá permitir voltar a ter vidas normais e a economia poderá regressar ao crescimento”, observa o ex-presidente da Comissão Europeia. É neste sentido que sublinha a importância da distribuição de vacinas aos países menos desenvolvidos, nomeadamente em África, na medida em que permitirá uma generalização do processo de imunização.

Durão Barroso lembra ainda que essa é uma das tarefas da Covax - a organização que reúne mais de 160 países para distribuir vacinas - e que o objectivo é evitar que se repita o erro de 2009, quando face à pandemia do H1N1 (dita "gripe das aves”), os países ricos compraram todas as vacinas.

"Espero que a lição seja aprendida, para que da próxima vez que enfrentarmos uma pandemia, o modelo Covax já esteja em vigor para uma resposta ainda mais rápida”, afirma. E acrescenta: "da mes-ma forma, precisamos de me-lhores sistemas de vigilância para que possamos identificar e responder mais rapidamente, com eficácia, às novas ameaças à saúde humana. Está em causa toda a questão da resiliência (...), que é essencial para as nossas sociedades e em especial para a saúde pública.


Covax prevê entregar  2,3 mil milhões de doses

A plataforma global Covax prevê entregar em todo o mundo 2,3 mil milhões de doses de vacinas para a Covid-19 este ano.
Segundo Durão Barroso, esta operação da Covax será a maior operação alguma vez realizada no mundo.
O presidente da GAVI acrescentou que a entrega de vacinas já começou "desde a Índia até ao Gana, Costa do Marfim, Co-lômbia, Coreia do Sul, e ainda Angola, Nigéria, República Democrática do Congo e Camboja".
Durante o primeiro trimestre do ano "serão distribuídas quase 150 milhões de doses", referiu, indicando que "nos próximos dias, vários outros países, nomeadamente africanos, receberão também as respectivas doses de vacinas e as quantidades serão aumentadas até ao fim do ano".

O processo, que acredita ser  "um sucesso", depende de algumas condições: "a prontidão dos sistemas de saúde e dos órgãos reguladores nos países participantes" e o financiamento de que depende a Covax, liderada pelo GAVI, pela Organização Mundial de Saúde e pela coligação internacional CEPI. José Manuel Durão Barroso, que foi nomeado presidente da GAVI em Setembro passado e assumiu funções este ano, salienta que "a Covax está preparada para distribuir qualquer vacina que tenha recebido a aprovação da OMS ou de uma autoridade regulatória oficialmente reconhecida como rigorosa".

Além disso, continua em conversações com as farmacêuticas para haver "doses adicionais" e a "levantar fundos para proteger as pessoas mais vulneráveis do mundo", que "ficariam sem acesso às vacinas" sem uma Covax, que junta 190 economias mundiais.
Dentro da lusofonia, há exemplos disso mesmo: todos os países participam e receberão um total de 13,8 milhões de doses "mas enquanto o Brasil se auto-financia, os Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa (PALOP)  e Timor-Leste  receberão quantidades apreciáveis de vacinas a título de doação".

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