Opinião

A solução para Luanda

Sousa Jamba

Jornalista

A solução para o problema de Luanda faz lembrar aqueles manuais de guerra que qualquer um pode baixar da Internet. O segredo está na transformação da teoria para a prática.

19/03/2021  Última atualização 06H00
Luanda sairá do presente caos não dependendo de uma figura ou figuras superdotadas. Há muitas partes envolvidas neste imbróglio que é Luanda que deverão ser tomadas em conta.
A solução para Luanda, em parte, está fora de Luanda. O problema de Luanda não  é singular à nossa capital; muitas capitais africanas têm que lidar com o fenómeno de populações que vão aumentando e infra-estruturas completamente sobrecarregadas.  Resolver o problema de Luanda vai precisar de muita criatividade, cooperação e paciência.

Algumas semanas atrás, estive no Namibe. Visitei o deserto, para ver a Welwítschia Mirabilis; no regresso, notei que muita gente estava a construir casas nos subúrbios daquela cidade. Havia construções no deserto. Perguntei quem estava a construir e disseram-me que havia muitos nativos do Namibe, da classe média, que tinham emigrado para Luanda e que agora queriam ter a segunda casa naquela localidade. Outros queriam regressar à sua cidade natal. Havia, também, muitos vindos de Luanda, Benguela, Huambo à procura de melhores condições.

 Todas as indicações eram de que o Namibe passaria, no futuro, a ser um centro económico de peso.  Havia o comboio que ia até Menongue; a província do Cuando Cubango é um gigante económico que vai acordando — o local mais óbvio para a exportação dos produtos desta província é o Porto do Namibe. Existe, também, a grande possibilidade de que o caminho-de-ferro terá, também, ligações com a linha que está a ser construída para a exportação do cobre da Zâmbia.

No Porto do Namibe poderão passar produtos para a República Democrática do Congo, assim como para a Zâmbia. O Namibe vai precisar de hotéis, restaurantes, casas para entretenimento, etc.  Haverá, também, claro, muitas oportunidades para mão-de-obra não especializada. Depois há, também, a possibilidade do Namibe estar no centro de uma florescente indústria petrolífera.  No caminho à cidade de Moçâmedes , vi já instalações de empresas que pretendem explorar minerais.

Depois há, também, a vizinha província da Huíla, com o seu imenso potencial agrícola, que, certamente, irá beneficiar o Namibe. A solução para Luanda é ter um êxodo notável para locais como o Namibe.  Na própria província do Namibe, haverá a necessidade de muita abertura e imaginação. Por exemplo: dentro de duas horas, alguém pode estar numa savana, num local com rios, e depois num deserto. Está é uma grande possibilidade que pode ser vendida a produtores internacionais  de cinema.

O Botswana tem promovido o seu turismo financiando, em parte, filmes e novelas ocidentais que são filmados naquele país. Desenvolver o país, promovendo a sua diversidade cultural, pode também ajudar a acabar com o congestionamento de Luanda. Na Nigéria, Port Harcourt, no Sul, é famoso pelas suas igrejas e coros. O resultado é que aquela localidade possui estúdios de gravação de alta qualidade; há artistas ocidentais que vão lá para gravar as suas obras. O resultado é um aumento notável no turismo. 

Em 2017, o centro histórico de Mbanza Kongo foi declarado pela Unesco Património da Humanidade. Houve muitos discursos para celebrar este acontecimento. Mas em termos palpáveis, o que foi feito para tornar aquela localidade altamente atraente?
Em África, as capitais atraem muita gente porque são o centro do poder e do dinheiro; quem pretende ascender na vida, vai para a capital para ser visto e também para fazer as conexões que podem garantir a sua ascensão.

Angola deveria emular o exemplo de uma prática no Reino Unido e Estados Unidos.  Há secções de departamentos chaves do Estado que estão espalhadas em todo o país. No Reino Unido, a cidade de Liverpool, que sofreu muito depois do desaparecimento das suas indústrias, existe um centro que lida com questões fiscais; há cidadãos em Londres que têm que mandar documentos e pagamentos que são processados em Liverpool. Nos Estados Unidos, se alguém faz uma aplicação para um passaporte na Florida, tudo pode ser processado nos estados de Montana ou Utah, revigorando assim a economia.

Que tal se algumas das funções das repartições em Luanda fossem transferidas para o Cunene ou Cuando Cubango? Sim, os quadros que estão em Luanda iriam para estas províncias com as suas famílias. Viajando nos Estados Unidos, muitas vezes interroguei-me como é que uma pequena cidade no interior tinha hotéis e restaurantes de qualidade. Em muitos casos, havia, não longe da cidade, estruturas ligadas ao Governo Federal.

Nas minhas viagens pelo nosso país, já vi situações onde figuras com poderio financeiro nas províncias fazem tudo para comprarem casas em Luanda. E entende-se: os melhores hospitais, escolas, centros recreativos estão lá.  Mesmo os que vão viver nos bairros da periferia de Luanda, enfrentando imensas dificuldades, continuam a acreditar que um dia a sua situação vai melhorar porque estão na capital do país.

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