Sociedade

A paixão pelo Direito e pelo Jornalismo

Rui Ramos

Jornalista

Domingos Figueiredo Miguel nasceu no dia 2 de Fevereiro de 1996, em Luanda, no município do Cazenga, na rua do Patrício. Filho de Valéria Figueiredo, proveniente da província do Bié, município de Catabola, vendedora ambulante, e de Domingos Pedro do Amaral (em memória) natural da Kissama, na altura província do Bengo, antigo motorista do Porto de Luanda.

03/08/2024  Última atualização 09H35
© Fotografia por: DR
"A minha infância foi incomum, diferente dos demais meninos, que no fim do dia corriam ao encontro dos pais, infelizemente, fui órfão de pai vivo, e só conheci o meu progenitor aos 14 anos, por insistência da minha mãe. Sou o caçula de dois irmãos na parte materna e na paterna estou entre o 15.º e o 18.º filho”, são as suas primeiras recordações.

Da 1.ª à 4.ª classe, Domingos Figueiredo Miguel estudou numa escola pública conhecida por "Comboio”. Na 4.ª, finalista, não estava apto. "Recordo que tinha um professor que chegava de segunda a sexta bêbedo e dormia na turma, quando acordava considerava a aula dada, foi aí que a mãe entendeu colocar-me na explicação, hoje colégio, conhecido por "Tio Lucas”, passando no teste, reprovei por não saber ler nem escrever, e fui obrigado a repetir a iniciação (pré). Nessa altura, já haviamos saído do Patrício, fomos para a Terra Vermelha, actual Kalawenda.”

A sobreviência da família dependia da venda ambulante de frutas que a mãe comprava nos mercados do Kikolo e dos Kwanzas.” Habitualmente, aos 9 anos passei a auxiliar, quando a mãe e o meu irmão mais velho (Damião do Amaral) fossem comprar produtos, ficava a controlar a bancada no mercado da Terra Vermelha.”

Quando entra para 7.ª classe, tentam uma vaga numa escola pública, infelizmente não conseguiram, "e o pior é que a minhã mãe já não conseguia pagar as propinas, aí os seus sobrinhos filhos da sua irmã mais velha, que a trouxe para Luanda (Eva Miguel, Pascoal Miguel Manuel Miguel e Luís Miguel), decidiram assumir a minha formação, o que lhes agradeço eternamente”.

Enquanto estudava, com o objectivo de ajudar a mãe, foi lavador de carro de um vizinho que diariamente lhe dava 400 kwanzas para auxiliar em casa. Um ano depois, foi ajudante de construção civil, mas, insatisfeito com o que recebia, pediu à mãe para falar com um vizinho conhecido por Mestre Zé, que era o responsável de uma oficina de bate-chapas.

O primeiro colchão

"Comecei como ajudante e com a recompensa que recebia para lavar roupa, poupava e consegui comprar o primeiro colchão, no mercado do Asa Branca, apesar de ter um quarto pequeno e humilde, passei a dormir com mais dignidade”, recorda com humor.

Em 2013, entra para o Centro de Fromação Profissional do Cazenga e faz o curso de Refrigeração. "Com auxílio da minha família materna, entro para o ensino médio, no curso de Ciências Físicas e Biológica, no colégio Esperança II, no Cazenga.”

No ensino médio, por gostar muito de falar e algumas vezes apresentar galas, os colegas Afonso Kinjimbuete, Venâncio Ricardo, Fernando Canjungo e Cleiton Buta incentivaram-no a fazer Jornalismo. "Sem pensar duas vezes, matriculei-me no projecto "Eu e a Minha Comunidade” no curso de jornalismo radiofónico.

Na recta final, o centro recebeu um pedido para envio de estagiários, fomos submetidos a testes, eu e o meu amigo Joaquim fomos seleccionados para um estágio de 6 meses no Jornal Visão (físico), em 2016.

"Como praticante de artes marciais (judo), em 2015 conheci o mentor do projecto "Crime Zero” do grupo HDA, actual presidente da Ferderação de MMA, Armando Carlos Diogo "Scott”, a quem solicitei uma oportunidade de estágio e ele falou com Yuri Reverendo e passei a estagiar no programa "Potência Máxima” da Rádio LAC, mas devido à distância e pelos riscos que corria, para chegar ao Kalawenda, desisti.”

Três anos depois, abraça o desafio do web-jornalismo, no site "Na Mira do Crime”, onde permanece um ano e meio, ganhando a paixão de escrever matérias ligadas ao crime, volta para o jornal Visão, agora em formato digital, e passa a gerir três sites, o Jornal Visão, o Jornal Continente e o Correio África.

Em 2021, cria o seu próprio projecto, O Flagrante (oflagrante.com), um site de informação voltado para crime-

Depois de ter desistido, em 2018, do ensino superior por falta de condições financeiras para se alimentar e vestir, recebe ajuda do amigo irmão Wedino André, que lhe dava as suas roupas, para não ser expulso da sala, "pois o doutor Luís Dias, hoje Procurador numa das províncias do país, não poupava quem estivesse mal apresentado”. Hoje, é estudante de Direito, à beira de terminar a licenciatura.

"Também, sou jornalista acreditado pela Comissão da Carteira e Ética e membro da Plataforma de Jornalistas Africanos (PJA), sediada na Nigéria, detentora do International Magazine, publicado mensalmente”, destinado, para acrescentar: "Para recompensar o esforço da minha mãe, procuro dar o melhor, ela é pai e mãe, foi forçada a deixar de estudar, mas hoje está na alfabetização, com a idade 63 anos, e segue firme e motivada e eu vou realizar o seu sonho, fazer o ensino superior”

Em 2023, contrai o ma- trimónio com Mariana Miguel. "Ela esteve sempre comigo em todos os momentos.”

E conclui: "O meu próximo projecto é uma associação de intervenção social, vocacionada para adolescentes, inicialmente no Cazenga. "Para mostrar a fórmula que para muitos é impossível, ser do Cazenga e não ter conflitos com a justiça, apesar de reconhecer que é extremamente difícil, pois muitos amigos caíram na deliquência e outros já não fazem parte do mundo dos vivos.”

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