Opinião

A influência diplomática de Angola no Mundo

Sousa Jamba

Jornalista

No complexo mundo das relações internacionais, Angola emerge como um actor cada vez mais proeminente, exercendo influência através de finesse diplomática e iniciativas estratégicas. A recente 117ª sessão da Organização dos Estados de África, Caraíbas e Pacífico (OEACP) em Bruxelas serviu como palco para Angola demonstrar a sua crescente proficiência diplomática e posicionamento estratégico no cerne deste influente bloco.

04/08/2024  Última atualização 07H44

Fundada em 1975, a OEACP incorpora o princípio de solidariedade entre 79 nações em três continentes. Esta aliança permite uma voz unificada em questões globais prementes, desde preocupações de segurança até às alterações climáticas. Sob a liderança do Presidente João Lourenço, Angola aproveitou a oportunidade para elevar tanto a eficácia da organização como o seu próprio estatuto internacional.

A recente reunião híbrida em Bruxelas reuniu figuras diplomáticas chave, incluindo Kamina Johnson Smith, presidente do Conselho de Ministros da OEACP e ministra dos Negócios Estrangeiros da Jamaica, Domingos Custódio Vieira Lopes, secretário de Estado para a Cooperação Internacional e Comunidades Angolanas, Georges Rebelo Pinto Chikoti, Secretário-Geral da OEACP, e Mário Constantino de Azevedo, embaixador de Angola na Bélgica e na União Europeia. O formato do evento, parcialmente virtual e presencial, reflectiu a adaptabilidade da organização face aos desafios globais.

O próprio local, a Embaixada angolana em Bruxelas, tornou-se um ponto de destaque. Situada num bairro tranquilo, o edifício da Embaixada combina harmoniosamente a arquitectura holandesa do século XIX com tecnologia de ponta. Esta fusão de charme histórico e funcionalidade moderna criou um ambiente ideal tanto para discussões formais,  como para networking informal - o cerne da diplomacia.

A posição central de Angola na OEACP expandiu significativamente o seu alcance e influência diplomática. Seja abordando o destacamento de tropas quenianas para o Haiti, seja apoiando nações insulares do Pacífico que enfrentam a subida do nível do mar, ou mediando disputas territoriais entre a Guiana e a Venezuela, Angola encontra-se agora na vanguarda do diálogo internacional. Este estatuto elevado permite a Angola avançar os seus próprios objectivos estratégicos, enquanto contribui para a resolução de problemas globais.

Esta abordagem ao soft power é reminiscente de como os países escandinavos historicamente exerceram influência além das suas capacidades aparentes nos assuntos internacionais. Ao manter uma postura coesa em questões como a ajuda ao desenvolvimento para o Sul Global, estas nações ganharam considerável influência na esfera global. Angola parece estar a seguir um guião similar, utilizando a sua posição dentro da OEACP para amplificar a sua voz e influência.

A própria OEACP tornou-se uma organização levada a sério pela comunidade internacional. O seu Secretário-Geral, Dr. Chikoti, é constantemente abordado por vários actores globais com diferentes agendas. O seu desafio - e, por extensão, o de Angola - é assegurar que estas agendas se alinhem com os objectivos colectivos dos Estados-membros.

Um foco chave dos esforços diplomáticos actuais de Angola é a diplomacia económica. A Embaixada em Bruxelas serve como um exemplo primordial de como Angola está a alavancar as suas estruturas diplomáticas para perseguir a diversificação económica e projectos de desenvolvimento como o Corredor do Lobito. O profissionalismo e competência demonstrados pelo pessoal da Embaixada sublinham o compromisso de Angola em construir um corpo diplomático qualificado, capaz de defender e avançar os interesses do país no palco mundial.

Este tipo de influência diplomática leva tempo a amadurecer. Os frutos dos grandes avanços de Angola no mundo diplomático podem demorar algum tempo a tornar-se plenamente aparentes dentro da própria Angola. Contudo, para que iniciativas sérias se enraízem e solidifiquem em Angola, é necessária advocacia a nível internacional. É aqui que os diplomatas angolanos servem como primeiro ponto de contacto.

Se os diplomatas de Angola se apresentarem organizados, operarem com base em princípios estratégicos, e as suas embaixadas reflectirem seriedade e capacidade, isso constrói confiança com parceiros internacionais. Isto pode criar um efeito cascata: de Bruxelas até Angola, o país acabará por beneficiar.

Ao posicionar-se no centro da OEACP e demonstrar excelência diplomática, Angola está a reforçar o seu soft power. Esta abordagem permite a Angola exercer influência além das suas capacidades aparentes nos assuntos globais, advogando não só pelos seus próprios interesses, mas também pelos dos seus parceiros na OEACP. É uma coisa uma pequena nação insular como Nauru levantar preocupações por si só, mas é outra completamente diferente quando a voz de Nauru é amplificada pela força colectiva de Angola, Nigéria e República Democrática do Congo (RDC).

A longo prazo, esta estratégia pode levar a benefícios tangíveis para Angola em termos de apoio internacional, investimento e cooperação. À medida que Angola continua a investir nas suas capacidades diplomáticas e iniciativas estratégicas, os benefícios acabarão por se propagar de Bruxelas até Luanda, Lobito, Luena até Lumbala Nguimbo.

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