Opinião

A hora do turismo interno

Adebayo Vunge

Jornalista

Um dos sinais animadores da recuperação económica pós-pandemia, em primeiro lugar, e também da conjuntura macroeconómica é o notável aumento da mobilidade interna, com reflexos ao nível do turismo.

27/03/2023  Última atualização 06H05

No fundo, a nossa economia começa a denotar sinais de reanimação e as pessoas começam a estar em melhores condições de dinamizar o consumo e, por conseguinte, o turismo interno, sem ser por razões oficiais ou de trabalho, como se queixavam alguns operadores do sector vai sendo um dos rostos dessa recuperação.

Com a possibilidade da TAAG e outras pequenas companhias criarem ligações para a maioria das cidades capitais das províncias a partir de Luanda, mas principalmente com os trabalhos de manutenção e reparação de algumas das principais estradas nacionais, então, vamos vendo, cada vez mais, um maior número de pessoas a circular entre províncias.

É significativo notarmos que essa circulação é feita em todo o país, com as pessoas a privilegiarem, principalmente, aquelas províncias com maiores infra-estruturas de apoio ao fomento do turismo, com particular realce para Luanda, Benguela, Namibe, Huila e Cabinda.

Essa predominância das províncias referidas tem subjacente uma discrepância no desenvolvimento entre as diferentes províncias, com um sinal de maior aceleração no litoral centro e sul do país, em detrimento do norte e do interior (leste), situação que poderá ser corrigida com a aposta que se pretende fazer ao nível dos planos para o fomento da produção agro-pecuária. Essa aposta, vai permitir também acelerar um conjunto de infraestruturas nessas regiões, principalmente aquelas que estão relacionadas as acessibilidades.

A Polícia Nacional registou, no último fim de semana, um grande movimento de pessoas nas estradas nacionais, o que é sintomático do quanto os fins de semana prolongados podem ser verdadeiramente indutores do turismo interno, com reflexos também ao nível da ocupação da rede hoteleira, tal qual a grande enchente que se registou em algumas praias, zonas ribeirinhas, fazendas de eco-turismo, entre outros pontos.

As principais regiões de atracção turística, em particular chamo atenção aos pontos selecionados há alguns anos para as sete maravilhas nacionais onde são exíguas ainda as estâncias e rede hoteleira e de restaurantes que possam oferecer serviço de qualidade para o volume de turistas que acorre às aludidas regiões. Chamo particular atenção ao corredor de Malanje onde os turistas mostram-se aflitos em matéria de alojamentos e nem mesmo a nossa população tem o hábito de tirar benefício dessa carência disponibilizando os seus aposentos para acolher turistas, como as vezes ocorre em estâncias turísticas, em outras regiões do mundo, em que existam iguais constrangimentos.

Essa lógica do turismo interno ficou bem patente no comboio turístico que levou uma centena do Lobito ao Luau. Iniciativa muito louvável e que testemunha o dinamismo que se pode empregar neste sector, impacto muito positivo na realidade sócio económica das regiões. São por isso necessárias outras iniciativas que dinamizem e fortaleçam a importância do turismo no nosso seio.

A dinamização do turismo interno permite-nos revalorizar o sentido patriótico e de exaltação do sentimento de pertença com um território abundantemente cortejado de belezas naturais que deixam qualquer turista boquiaberto. Esse sentido de descoberta levará inclusive as pessoas a perceberem que não precisam de se amontoar em Luanda e noutras cidades, como sucede actualmente, com repercussões muito negativas em termos de qualidade de vida.

Mas a indústria da paz irá beneficiar fundamentalmente dos avanços sociais e económicos que conseguirmos alcançar, sendo fundamental a salvaguarda da segurança, dum serviço de saúde harmonioso e eficiente, da mobilidade, da qualidade do nosso capital humano no sentido de prestar um serviço eficiente e com toda a dignidade para o turista.

Na mesma senda, de resto, acredito que com as nossas condições devemos prestar e valorizar acima de tudo o turista interno. Tornar o nosso país uma prazerosa realidade para que os nacionais e todos os residentes possam desfrutar da Tundavala às praias de Cabinda, dos kayaques no rio Kwanza, das dunas lindas do deserto que se misturam com as praias e tornam o momento uma experiência única, das grutas e lagoas, das fazendas e águas térmicas, dos monumentos de Mbanza Kongo, de Luanda, Benguela e outros pontos, sem esquecer a alegria das nossas gentes e a riqueza da nossa cultura.

Todavia, o concentrar em nós, não pode traduzir-se numa abordagem xenófoba ou paternalista. Não só porque precisamos de investimentos, mas fundamentalmente porque precisamos de elevar a qualidade dos serviços adequando-o aos altos padrões internacionais.

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