Opinião

A aposta na formação

Toda a criança nasce com um talento. Ou com vários. Há quem manifeste habilidades para jogar à bola, conduzir seja o que for: uma jante, um pneu ou um simples pau. Há criança que vibre a ver um carro passar, que goste de correr, cozinhar, saltar à corda, fazer contas ou convencer os outros.

14/03/2021  Última atualização 08H05
Há, também, quem manifeste todas estas habilidades. Tive amigos assim. O Pedro Manuel António, o meu primo Pecito, era um destes. Tinha talento para tudo. Uma semente que podia facilmente desabrochar em qualquer chão. Quem o visse a fazer fosse o que fosse adivinhava nele um futuro promissor. Todos diriam: onde quer que este menino vá, o país está bem entregue, sairá a ganhar. Era fácil adivinhar.

O tempo passou, os meninos do meu tempo cresceram; tornaram-se homens. Hoje, o Pecito ainda vive. Tem família, mas não progrediu. Vive de biscates. Aquele talento para algo mais útil, para o país, desapareceu. Em vez de se tornar num elemento capaz de contribuir para soluções, ajudar no desenvolvimento do país, Pecito tornou-se, ele mesmo, um problema. O que se passou, afinal?

 Muitos devem ser os motivos. Mas antes que avance alguns, chamo à reflexão a conversa com um amigo, sobre o tipo de formação que temos. Ou o que devíamos ter. Um alto dirigente do nosso  país afirmou, recentemente, que a pirâmide de formação dos quadros tem de ser devidamente estruturada. Disse este dirigente, e concordo, que precisamos de licenciados, mestres, doutores. Mas precisamos, muito mais, de pessoas bem qualificadas, capazes de exercer, de forma competente, uma dada profissão, mesmo sem serem licenciadas.

Acrescenta esta individualidade, com quem concordo em absoluto, que, sem quadros com a competência requerida e com o efectivo comprometimento com a causa do crescimento e do desenvolvimento do país, não conseguiremos levar avante, com sucesso, as inúmeras e complexas tarefas que temos pela frente, no sentido de fazer de Angola um país moderno, próspero e desenvolvido.

Já houve tempo em que, na ânsia de avançarmos nas estatísticas, institucionalizámos a burrice e, com ela, a preguiça, a roubalheira, o espírito de deixa andar. E a sociedade pagou e ainda paga pelas escolhas erradas feitas no passado. Mas é avisado não cometermos os mesmos erros. É preciso reactivar os centros psicotécnicos, para auxiliarem os jovens a encontrar a formação adequada, em função das habilidades naturais, do seu talento. É preciso melhorar a formação técnica e pedagógica dos professores, formadores e gestores das escolas do ensino técnico-profissional e dos centros de formação profissional. É preciso aperfeiçoar a qualidade dos currículos, tendo como base as necessidades da economia nacional.

Definir o tipo de ensino que o país precisa, para o objectivo imediato predefinido. Com formação, seremos muitos a perceber e encontrar as soluções. É verdade que o contexto e a realidade influenciam. É difícil o talento desabrochar em terreno minado pela injustiça. Mas estou em crer que o Plano Nacional de Formação de Quadros aponta para o caminho certo, já que está inserido no Plano de Desenvolvimento Nacional. O país precisa de quadros competentes, aos mais diversos níveis, da base ao topo.

Que ninguém duvide. É preciso dar formação de qualidade, para que cada um encontre a sua responsabilidade na engrenagem deste país. Um homem bem formado e informado, além de contribuir positivamente para o bem da colectividade, mais facilmente encontra solução para os próprios problemas. Pecito é bem a prova do mal que fazemos ao país. Precisamos de uma formação que aproveite os talentos e habilidades de crianças como o Pecito e as ajude a desabrochar, para a felicidade colectiva.

Cândido Bessa

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