Opinião

Contributo de Neto para a afirmação da nossa identidade cultural

“Os homens não são imortais, mas se imortalizam pelas suas boas obras e pelas suas acções.”

24/09/2017  Última atualização 10H26

Setembro é um mês especial que marca uma data histórica e nostálgica. Neste mês, celebramos com júbilo a data do nosso guia imortal, do insigne humanista, do político convicto, do estadista coerente, do escritor sem precedentes e do homem de cultura elevada: o saudoso Presidente Dr. António Agostinho Neto. Neste mês, aos poetas cresce a inspiração e aos trovadores também. Os pensadores cogitam com sentimento patriótico quão difícil foi tecer e conquistar a afirmação da nossa identidade cultural.
Graças a Agostinho Neto, o nosso guia imortal, herói e mentor da Sagrada Esperança, a afirmação cultural está expressa, existe e é concreta. Tal como milhões de jovens angolanos, sou um “incurável” admirador de Agostinho Neto e da sua “obra que tão grandemente o qualificou e tão merecidamente o imortaliza”, como afirmou peremptoriamente César Viana na sua obra “O Evangelismo Poético de Agostinho Neto”.
António Agostinho Neto é o fundador na Nação angolana, insigne humanista, político, estadista, escritor e homem de cultura, cuja bravura e patriotismo o levou a inscrever o seu nome na história do mundo, da África e de Angola, opondo-se com indesmentível coragem à ocupação colonial, lutando para a independência e desencadeando a incessante busca pelo resgate cultural. Ele conseguiu cumprir com excelência o seu papel. Sonhou com uma Angola e África livres, lutou para tornar este sonho em realidade. Sofreu, foi condenado e maltratado, mas como não existem triunfos sem batalhas e não há batalhas sem sofrimento, deixou Angola e África livres do jugo colonial.
Agostinho Neto proclamou perante a África e o Mundo, a 11 de Novembro de 1975, a Independência de Angola. Lançou as rédeas para a continuação da luta de libertação quando afirmava “no Zimbabwe, na Namíbia e na África do Sul está a continuidade da nossa luta”, cumprindo-se com a sua visão profética de que “Angola é e continuará a ser, por vontade própria, trincheira firme da Revolução em África”, intensificando deste modo a campanha nacional de alfabetização para erradicar o analfabetismo, certo de que “ser culto é a única maneira de ser livre”. A ignorância é uma grande escravidão, pois gera o analfabetismo que, juntamente com a pobreza e a enfermidade, constituem os principais entraves para o desenvolvimento social.  Por isso, é uma verdade irrefutável na história da humanidade, da África e de Angola, afirmar-se a imortalidade de Agostinho Neto. Ele é o nosso antepassado, pois segundo Elungo Pene Elungo, “antepassado é só aquele que tendo vivido a sua vida, foi tão exemplar que depois da morte pode ser tido como modelo a seguir pelos demais”.
Neto é um modelo a seguir pelas actuais e futuras gerações. Revolucionou a história de África e deu um rumo à história da Angola Independente, livre e próspera. Apesar de ter sofrido injustamente várias prisões, nunca ficou intimidado para lutar. A sua veia poética, as suas mãos guerreiras, a sua voz política e o pujante incentivo aos africanos sobre a luta pela independência, único caminho para a conquista da liberdade e da afirmação da nossa identidade cultural, tornou-o guia imortal no continente.
Sempre soube que dignidade sem liberdade é utopia, liberdade sem dignidade é escravidão, cultura sem conhecimento é ignorância, conhecimento sem cultura é vaidade, é ilusão, conhecimento e cultura sem liberdade é opressão, liberdade sem conhecimento e cultura é analfabetismo, liberdade aliada ao conhecimento e cultura é identidade, é independência, mesmo com a barriga vazia, pois mais vale mais ser livre mesmo com fome do que repletos mas escravos.
No poema “A Renúncia impossível”, escreve: “Eu sou. Existo. As minhas mãos colocaram pedras nos alicerces do   mundo. Tenho direito ao meu pedaço de pão. Sou um valor positivo da humanidade e não abdico, nunca abdicarei!”.
Na verdade, tem direito ao seu pedaço de pão: a nossa homenagem e gratidão.
Semeador da esperança de um mundo melhor, de uma África livre e mensageiro da poesia de conscientização, Agostinho Neto é marcadamente o líder das mensagens de fé e esperança, de amor e fraternidade, de solidariedade e paz. Por isso, no “Adeus à Hora da Largada”, transmite o patente messianismo nos seus poemas: “Minha mãe, tu me ensinaste a esperar, como esperaste nas horas difíceis, mas a vida matou em mim essa mística esperança, eu já não espero, sou aquele por quem se espera, amanhã entoaremos hinos à liberdade, quando comemorarmos a data da abolição desta escravatura”. Neto é imortal. 
*PhD em Ciências Pedagógicas pela Universidade de Ciências Pedagógicas Enrique José Varona (Cuba) na especialidade de História e Filosofia da Educação